Cena de Romería (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Romería (Reprodução)

Filmes

Crítica

Romería transforma busca por identidade num sonho de verão pela costa espanhola

Leia nossa crítica do filme de Carla Simon no Festival de Cannes 2025

Omelete
3 min de leitura
22.05.2025, às 06H30.

No papel – literalmente – a razão pela qual Marina (Llúcia Garcia) precisa que seus avós reconheçam sua existência, algo que eles podem fazer com uma simples ida ao cartório, é para que ela esteja habilitada para receber uma bolsa para a universidade. Mas, se essa assinatura parece ter o poder de confirmar sua existência em um sentido mais profundo, não é um acidente. Morando em Barcelona (Espanha), ela perdeu a mãe biológica ainda pequena, e nunca conheceu o pai. Em busca de entender seu passado, ela viaja para Vigo numa migração que espelha a peregrinação religiosa cujo nome serve como título para Romería, de Carla Simon.

Marina também nunca viu os tios e avós. O que ela entende como família são pais adotivos e, no máximo, o lado materno de sua ascendência. Quando ela chega nas praias de Vigo, na Espanha, é julho de 2004. Sua câmera, com todo o ruído digital dos equipamentos da época, registra as ondas do mar e colinas verdejantes enquanto a menina narra os procedimentos lendo a partir do diário escrito pela mãe no fim dos anos 1980, volume que ela obteve recentemente e que acendeu sua necessidade por respostas. O contraste das imagens mais modernas com a narração de acontecimentos de duas décadas antes é a primeira de algumas curvas temporais que Simon usa para pautar sua história de identidade e herança.

Não é tarefa fácil para a menina, que acabou de completar 18 anos e sonha em cursar cinema. Quando seu avô, a quem ela jamais havia visto, escuta isso, ele brinca que não sabia que era possível estudar filmes, e essa é apenas uma das várias vezes em que seus parentes sanguíneos parecem não entendê-la, ou até rejeitá-la. Mais tímida, ela não bebe ou usa drogas, mas tem um espírito aventureiro que rapidamente lhe aproxima de Iago (Alberto Gracia), o único dos tios com quem ela parece criar uma conexão genuína. Pior do que essa estranheza, porém, é como eles não a ajudam em nada na busca pela ascendência. Em suas conversas com os irmãos do pai, Marina recebe informações contraditórias e mais mistérios. Dos avós, só há o silêncio.

Simon filma o litoral espanhol como um verdadeiro sonho de verão, conferindo às andanças de Marina um grau de surrealidade que dá a Romería o gosto de uma lembrança. Podemos praticamente sentir a maresia nas noites que Marina usa para sair atrás de informações, e se há uma sensação efêmera lhe esperando em cada esquina, não é um acidente. Conforme as poucas certezas que tinha sobre seus pais vão sumindo, Marina parece entrar num mundo sem garantias, e o filme reflete isso com seu belíssimo retrato do local. Usando suas próprias experiências como base, a realizadora espanhola faz mais do que recriar cenários, ela traz a sensação transiente de ser um estranho num mundo cada vez mais irreconhecível.

Nem todos esses truques funcionam, entretanto. Há um ensaio de romance estranho entre Marina e seu primo Nuno (Mitch Martín) que parece ser confirmado quando, numa sequência febril, Simon enfim nos transporta para a época dos pais da garota e revela os segredos que estávamos aguardando, colocando tanto Garcia quanto Martín para viver o casal. No caso dela, ainda há a justificativa de uma semelhança entre mãe e filha, algo que todos mencionam, mas no dele – que também é um órfão – a escolha traz questionamentos demais, especialmente quando consideramos suas implicações para os primos.

Mais danoso, porém, é como esse flashback troca a intriga do filme por uma tragédia pouco engajante, apoiada em clichês e antagonista à maravilhosa ambiguidade que sublinha as cenas no presente. Simon ainda é uma grande diretora, e o impacto visual desse passeio temporal sustenta Romería por si só. A resposta, infelizmente, não está à altura das perguntas. Como resultado, a jornada de Marina rumo ao seu eu termina menos como um descobrimento pessoal e mais como o preenchimento sistemático de vácuos.

Nota do Crítico
Bom

Romería

Ano: 2025

País: Espanha, Alemanha

Duração: 114 min

Direção: Carla Simón

Roteiro: Carla Simón

Elenco: Alberto Gracia , Llúcia Garcia , Mitch Martín

Onde assistir:
Oferecido por

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