Renascida do Inferno | Crítica
Conflito entre ciência e religião dá o tom no terror estrelado por Olivia Wilde
Uma discussão entre ciência e religião, misturada com elementos sobrenaturais, é o que propõe em Renascida do Inferno (The Lazarus Effect, 2015)o diretor David Gelb, do documentário Jiro Dreams of Sushi, neste seu longa de estreia em ficções.
Na trama, um grupo de cientistas liderado por Frank (Mark Duplass) e Zoe (Olivia Wilde) trabalha em um laboratório em uma pesquisa para descobrir como recuperar pessoas de um coma profundo. Auxiliados por Clay (Evan Peters), Niko (Donald Glover) e Eva (Sarah Bolger), eles acabam descobrindo uma forma de recuperar um ser vivo da morte. Quando tudo parece bem, um acidente com Zoe coloca toda a pesquisa - e a vida de seus amigos - em risco.
Olivia Wilde mostra aqui uma de suas melhores atuações, convencendo tanto como uma cientista religiosa e amorosa, quanto uma aberração demoníaca. No filme, a discussão sobre a ciência "brincar" de Deus, contra conceitos e teorias religiosas sustentados pela fé das pessoas, é sublinhada de forma didática nas conversas entre o casal Frank e Zoe. Ele, um apaixonado pela profissão e sempre buscando justificativas para tudo em seu trabalho; ela, uma acadêmica que respeita as origens religiosas, independente do que Frank use como argumento.
O que mostra ser a parte mais interessante da trama, também acaba atrapalhando o desenvolvimento da tensão e a premissa dos personagens. Peters e Glover acabam sendo esquecidos, com seus personagens justificando suas aparições como coadjuvantes apenas para alívio cômico e o cara que "liga os equipamentos". Bolger ganha a sua importância no final, apesar de permanecer quase o filme todo na sombra de Wilde.
A tentativa de misturar ficção científica e horror sobrenatural também parece confundir o trabalho de Gelb. Competente nos momentos de suspense, o diretor trabalha com sucesso o jogo de luzes com a câmera quando uma "possuída" Zoe caça os seus colegas pelo laboratório. Porém, no final, não fica claro se o culpado pela transformação da protagonista foi uma predisposição sobrenatural ou uma tragédia científica. Porque, ao contrário de filmes similares como Linha Mortal (1990), aqui o tema da ressuscitação em laboratório vem acompanhado das obrigatórias sugestões demoníacas que marcam a maioria dos sucessos recentes de terror de baixo orçamento.
Renascida do Inferno não consegue usar ou justificar toda a base de elementos contidos no roteiro de Luke Dawson e Jeremy Slater, mesmo que entregue alguns (bons) sustos. De interessante, porém, fica a eterna discussão entre o científico e o religioso, que pode chamar a atenção do espectador que já não sente tanto medo de terrores que se repetem cada vez mais.