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Quarteto Fantástico (2015) | Crítica

Superequipe Marvel retorna ao cinema melhorada, mas com estúdio reticente

04.08.2015, às 18H07.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Humanizar personagens é o mantra da maioria dos roteiristas hoje. Resgatar caracterizações e relações reconhecíveis como verdadeiras são objetivos que parecem tão simples em essência, mas que frequentemente se perdem conforme filmes são reescritos. A cada revisão, ficam os clichês e vão-se as almas.

Quarteto Fantástico (Fantastic Four, 2015), reinício para o cinema da série baseada nos quadrinhos primordiais da Marvel Comics, tem como sua maior qualidade justamente essa humanidade. A chamada "Primeira Família" das HQs tem suas relações muito bem estabelecidas no roteiro de Simon Kinberg, Jeremy Slater e Josh Trank, que também assina a direção. A opção por contar o filme através dos olhos de Reed Richards (Miles Teller) é certeira dentro desse objetivo.

Sem precisar de muitas explicações por operar em terreno emocional conhecido, o filme funciona bem nesse sentido. O casal de irmãos Susan e Johnny Storm (Kate Mara e Michael B. Jordan) e sua relação com o pai são retratados de maneira competente, na mesma medida em que é econômica e tranquila a amizade de Reed e Ben Grimm (Jamie Bell). Quando os mundos se encontram - e entra em cena o desconfiado Victor Von Doom (Toby Kebbell) - as engrenagens seguem girando sem esforço. É um ambiente perfeitamente comum o que foi estabelecido.

Na trama, o jovem cientista sai do subúrbio graças à sua genialidade e vai parar no centro de uma operação científica que busca investigar uma dimensão paralela. No Instituto Baxter conhece o grupo que trabalha sob a orientação paternal do Dr. Franklin Storm (Reg E. Cathey, que serve como importante catalizador da ideia de família). Operando juntos, eles desvendam segredos do tecido do espaço e conseguem estabelecer uma porta dimensional para outra realidade. Os novos aliados lançam-se então a uma jornada pelo desconhecido.

Ainda que diferente da origem clássica dos quadrinhos, que tinha como ponto de partida uma viagem espacial - um feito formidável em 1961 mas hoje lugar-comum -, a jornada através das dimensões é fiel às revisões modernas da história do Quarteto. Mais do que isso, é fidelíssíma em essência à busca pelos limites da ciência da original.

Até aí, Quarteto Fantástico funciona com uma certa dose de suspense de ficção científica, que ganha surpreendentes contornos de cinema de horror quando surgem os superpoderes. As conhecidas habilidades do quinteto jamais são tratadas como uma dádiva, mas como uma reação fisiológica tão exuberante quanto perigosa. Os militares se encantam, mas tudo o que Reed sente é o peso da responsabilidade e a consequência de seus atos, algo que as páginas das aventuras da equipe sempre fazem questão de mostrar. Josh Trank falou bastante sobre inspirar-se no cinema de David Cronenberg - e nesses momentos, em que a ciência se confunde com o horror, isso fica bastante evidente.

Infelizmente, o que fica evidente também é a falta de recursos do filme. O orçamento de 120 milhões de dólares é o mais baixo para um filme de super-herói da Marvel desde Motoqueiro Fantasma - O Espírito da Vingança. Para a escala planejada do longa, a verba (o último X-Men, da mesma Fox, custou 200 milhões) faz diferença na hora da finalização dos efeitos de computação gráfica e na qualidade das cenas de ação. O longa é mais barato, até, que Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, de 2007. Assim, falta aquela última camada de esmero que daria ao filme um visual mais empolgante e crível. Ou mesmo no design, já que o Doutor Destino, mesmo que sua origem seja interessante, surge sem o peso e imponência que poderia ter. Melhor sorte têm os quatro integrantes do Quarteto, já que fica a impressão que o grosso da verba foi gasto neles (o Coisa está ótimo), mesmo que com apenas uma grande - e um tanto convencional - cena de ação.

O tom do filme depois da segunda viagem dimensional também muda. Durante meses circularam boatos sobre refilmagens e a ordem do estúdio de ter "mais Quarteto" nele e o último ato parece confirmar isso. A necessidade dessa guinada, mais aventuresca e super-heroica, é compreensível, mas um demérito em relação ao que estava sendo construído. Ao menos os últimos momentos deixam o Quarteto Fantástico perto de sua estrutura clássica, que rendeu tantas ótimas histórias nos quadrinhos. Resta esperar para que a Fox acredite mais em seu produto da próxima vez.

Nota do Crítico
Bom
Quarteto Fantástico (2015)
Fantastic Four
Quarteto Fantástico (2015)
Fantastic Four

Ano: 2015

País: EUA

Classificação: 10 anos

Duração: 100 min

Direção: Josh Trank

Roteiro: Josh Trank, Simon Kinberg, Jeremy Slater

Elenco: Miles Teller, Kate Mara, Michael B. Jordan, Jamie Bell, Reg E. Cathey, Tim Blake Nelson, Toby Kebbell, Dan Castellaneta

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