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Crítica

A Primeira Profecia não se refugia na mera referência ao passado e surpreende

Prelúdio junta pontas da cronologia de A Profecia, mas o faz com uma linguagem própria

Omelete
3 min de leitura
10.07.2024, às 09H04.

É natural ir para um filme de terror de franquia e esperar uma série de modismos que se repetem no gênero. Para começar, uma alusão frequente à marca, infinidade de referências em texto e imagem aos capítulos clássicos. O que não é comum é ter tudo isso e ao mesmo tempo abraçar uma estética própria, que entende o terror atual e renova uma franquia de quase 50 anos para uma narrativa condizente com o que é praticado no gênero nos dias de hoje. É essa mistura que diferencia A Primeira Profecia, novo filme da série de horror iniciada por A Profecia em 1976.

A trama se passa anos antes do primeiro filme e mostra a história da origem da seita religiosa que quer criar o anticristo na Terra. Acompanha-se essa jornada pelos olhos da jovem Margareth, vivida por Nigel Tiger Free, que sai dos EUA para um convento na Itália em busca dos votos definitivos para se entregar a Deus. Dentro do recinto, porém, ela começa a testemunhar práticas duvidosas. É um reinício que pouco se escora no original, mas que também presta a reverência necessária, sem se tornar obrigatório o conhecimento prévio da história - é neste fino equilíbrio que se sustenta também a atmosfera criada por A Primeira Profecia.

O mérito recai principalmente sobre Arkasha Stevenson, diretora conhecida por séries como Legion e Vingança Sabor Cereja, mas que aqui faz sua estreia nos cinemas. Focada em transformar o convento e a cidade de Roma em uma dualidade de luzes e sombras, ela resgata essa vocação do expressionismo para transmitir um senso de paranoia. Enquanto constrói o suspense em torno do que Margareth percebe como ameaças - ecoando inclusive perigos que cercam as mulheres de modo geral, situações tenebrosas como um parto bizarro ou um apagão no meio de uma balada -, sem necessidade de sustos aleatórios ou explicações exageradas, Stevenson não se furta a recorrer ao horror mais gráfico, apresentando formas, monstros e violência na medida ideal para construir a agonia sugerida pelo sofrimento incutido no local.

Nigel Tiger Free entende bem a proposta e incorpora a inocência da freira iniciante e extrapola as expectativas ao evoluir com a própria personagem, revelando uma performance corporal impactante e na medida para combinar com as sugestões do horror visual de Stevenson. Sonia Braga, ótima adição ao elenco, lidera os coadjuvantes que permeiam a história em adições pontuais, sempre conectadas com a linha principal da história e das dores que mães e mulheres passam de forma recorrente. Ainda que o final pareça acelerado e incondizente com o tom do filme como um todo, pois tenta conectar pontas soltas com a franquia, A Primeira Profecia não sai prejudicado e consegue com tranquilidade se tornar um dos melhores filmes da série, e uma das melhores surpresas do gênero em 2024.

Nota do Crítico
Ótimo
A Primeira Profecia
The First Omen
A Primeira Profecia
The First Omen

Ano: 2024

Duração: 120 min

Direção: Arkasha Stevenson

Elenco: Ralph Ineson, Bill Nighy, Nell Tiger Free, Charles Dance, Sônia Braga

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