Post Tenebras Lux | Crítica
Carlos Reygadas divide opiniões com experimentalismo
Post Tenebras Lux, título do novo filme de Carlos Reygadas, significa em latim "depois das trevas, luz". No entanto, o exercício de estilo e narrativa do mexicano nada tem desse prometida iluminação.
Post Tenebras Lux
Post Tenebras Lux
Post Tenebras Lux
O quarto filme do cineasta divide opiniões. Foi vaiado em alguns festivais, considerado esnobe e pretensioso, mas ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes, onde o realizador é frequentemente aclamado. Reygadas chama seu novo trabalho de "cubista" - e a definição se encaixa perfeitamente à estrutura criada (ou falta dela).
O longa mostra relances de uma família abastada nas montanhas do México, onde possuem uma belíssima casa. Alternam-se aos momentos da vida dessas pessoas algumas cenas, aparentemente, sem relação alguma - como um jogo de xadrez entre velhos, uma partida de rugby de meninos e o caminhar lento do diabo (em cena aterradoramente calma), que carrega uma caixa de ferramentas e é composto apenas de uma luz vermelha.
A atriz principal, Nathalia Acevedo, introduziu o filme no Festival de Toronto pedindo que ele fosse mais sentido que entendido - e a solicitação precisa ser seguida se Post Tenebras Lux, em suas duas horas de duração, quiser ser apreciado de alguma maneira. O filme, afinal, funciona mais como um experimento de galeria de artes, uma videoinstalação, do que um longa-metragem de circuito comercial.
De qualquer maneira, há fragmentos de história ali, que vão e voltam no tempo, incluindo sequências de sonho e momentos de surrealismo (como o citado diabo, que surge entrando em uma casa, algo cheio de significado).
Para quem aprecia o cinema em todas as suas formas, porém, Post Tenebras Lux tem suas recompensas. Registrado em formato 4:3, o olhar de Reygadas sobre a natureza (a humana inclusive) e seu poder é aterrador. As cenas externas, rodadas com foco extremo no centro do quadro e uma distorção circular ao redor, dão ao filme uma qualidade etérea, meio caleidoscópica, e ao mesmo tempo hiperrealista. A cinematografia de Alexis Zabé ora captura as cenas de maneira solta, ora com rigor extremo, fixando a câmera.
A mixagem de som é outro aspecto a ser exaltado. O registro dos animais, sons ambientes e personagens é impactante. A edição aproveita isso alternando cenas de silêncio ou calmaria com momentos de volume alto, causando uma espécie de "ponto de ancoragem". Enquanto em algumas cenas é impossível não devanear e deixar-se levar pelos pensamentos (muito pouco acontece em tela nos longos takes), esse contraste sonoro faz com que se volte ao filme.
Alguns momentos são memoráveis. A sequência de abertura, com uma menininha (Rut Reygadas, filha do diretor) sozinha em um vale alagado cercado de montanhas, andando entre vacas, cavalos e cães, é de tensão e beleza extremas. Igualmente perturbadora é a orgia em uma sauna temática, em que as salas levam o nome de filósofos e escritores.
De enorme pretensão artística pela sua nada ortodoxa realização, Post Tenebras Lux não parece impressionado consigo mesmo, o que poderia classificá-lo - como dizem alguns - como esnobe. Há uma visão genuína aqui, uma necessidade de buscar uma forma e significados, e não há nada de errado em não se conformar.