Penalidade Máxima | Crítica
O roteiro segue o esquematismo consagrado do tema
Em uma das passagens mais hilárias de Snatch - Porcos e Diamantes (de Guy Ritchie, 2000), o matador Tony Dente-de-Bala (Vinnie Jones), acuado e desarmado, amedronta dois malandros simplesmente com algumas frases de efeito. Surpreende o magnetismo do ator, um certo carisma da cara-fechada.
Antes de ser descoberto por Guy Ritchie e se tornar mundialmente famoso, especialmente pela participação nos ótimos Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (também de Ritchie, 1998) e Snatch, Vinnie Jones jogava futebol profissionalmente. Meio-campista do Winbledom FC e da seleção de País de Gales, ele ganhou uma pré-notoriedade depois ser fotografado, numa partida, agarrando os testículos do bad-boy Paul Gascoigne numa tentativa de marcação.
Talvez Guy Ritchie não seja um diretor de estilo revolucionário. Sua abordagem da violência pode não ser tão original, como muitos proclamam. Todavia, numa coisa, o britânico merece todos os méritos: conseguir agrupar, ao redor de sua produtora, Ska Films, e em torno dos dois filmes de sua carreira, uma equipe competente de atores, famosos na Inglaterra, mas desconhecidos do público mundial. Graças ao empurrão do diretor, Vinnie Jones, o exemplo mais contundente, deixou de correr pelos gramados, de participar das películas como uma simples peça do quebra-cabeças e agora encabeça produções como protagonista.
Nada mais apropriado, portanto, do que aproveitar os dotes do ator num filme como Penalidade Máxima (Mean Machine, 2001), do diretor estreante Barry Skolnick, responsável por comerciais de TV sobre futebol.
Refilmagem de The Longest Yard (1974), fita de Robert Aldrich (1918-1983), tida como uma das melhores atuações de Burt Reynolds, Penalidade conserva as bases: um ex-atleta, condenado a passar uns tempos numa prisão, coordena um jogo de detentos versus guardas, em meio a tentativas de corrupção e muita provocação.
A diferença principal entre as duas produções: em época de Copa do Mundo, o inglês Penalidade substitui o futebol americano de Aldrich pelo tradicionalíssimo esporte dos bretões.
Carrinhos assassinos
Quando Danny Meehan (Jones), apelidado Mean Machine, ou Máquina Maldosa, ex-capitão da Inglaterra, abandona a carreira depois de acusações de participação em resultados arranjados, sua ruína estava apenas começando.
Ao dirigir embriagado e agredir policiais, termina encarcerado. Atrás das grades, custa a conseguir a confiança dos outros presos. Pior, acaba intimado pelo administrador do presídio (David Hemmings) a servir de técnico no time dos oficiais, que disputa um campeonato estadual. Para fugir da fogueira, Meehan propõe o inverso: nada melhor para preparar os guardas do que um joguinho contra um time de detentos, organizado e capitaneado por ele próprio, o Mean Machine.
O roteiro segue o esquematismo consagrado do tema, algo que pode ser reconhecido até em Os Trapalhões e o Rei do Futebol (de Carlos Manga, 1986). O treinamento dos guardas, ultra-disciplinado, rola ao som de uma música cadenciada. Já na aula ministrada por Meehan, os detentos recebem instruções pouco ortodoxas e batem bola ao som de Salsa. O maniqueísmo fica completo com a figura do administrador, corrupto, que tenta convencer Danny Meehan a entregar o jogo, em troca de diminuição de pena. Nem é preciso dizer o resultado da partida para ficar evidente a previsibilidade. Gols no último minuto, jogadores carregados nos ombros, etc...
Trama à parte, os grandes trunfos de Penalidade são outros.
Produzido pelo próprio Guy Ritchie, além de outros executivos da Ska Films, o filme segue as regras estéticas de Jogos e Snatch. Técnicas de edição arrojadas, entrecortes secos, pausas e acelerações abruptas, além da famosa abordagem estilizada da violência, uma quase reverência. Neste caso, obviamente, entre jogadores que se odeiam, presos e oficiais, a tela fica forrada de carrinhos assassinos, encontrões, socos, tesouras voadoras e boladas nas partes baixas. Venhamos e convenhamos, neste aspecto, Vinnie Jones possui doutorado. Para aqueles espectadores que não se perturbam com a falta de fair play, é o que basta para uma boa diversão.
Algumas situações são divertidíssimas. Mas fica a dúvida. Será que as produções de Guy Ritchie e Cia. necessitam tanto de violência para sobreviver?