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Crítica

Pele de Asno | Crítica

Pele de asno

CN
13.04.2006, às 00H00.
Atualizada em 04.01.2017, ÀS 14H06

Pele de Asno
Peau dÂne
França, 1970
Musical - 100 min

Direção: Jacques Demy
Roteiro
: Jacques Demy, baseado em história de Charles Perrault

Elenco: Catherine Deneuve, Jean Marais, Jacques Perrin, Micheline Presle, Delphine Seyrig, Henri Crémieux, Sacha Pitoëff, Pierre Repp, Annick Berger, Sylvain Corthay, Valérie Quincy, Annie Savarin, Laurence Carile, Patrick Préjean, Jean Servais, Fernand Ledoux

Os contos de fadas, reconhecidamente, são verniz - para as almas mais inocentes - que cobre madeira cheia de veios, nódulos, nobreza e, por vezes, carunchos ou cupins. A Europa, berço das civilizações invasoras mas ao mesmo tempo as que mais se aprofundaram no desenvolvimento das artes, interessou-se e criou uma "escola" de contos de fadas. Histórias que atravessaram os tempos com sua aparência inocente e infantil e seu interior recheado de máculas, culpas, segundas-intenções, em suma, retrato daqueles seres humanos, brancos e cristãos, que se desenvolveram na encruzilhada, entre o oriente e o ocidente.

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Jacques Demy, diretor que demonstrou amor pelos musicais em Os guarda-chuvas do amor (1964), lançou seis anos depois Pele de asno (Peau dâne, 1970). Melhor, mais sarcástico, com números musicais mais bem resolvidos e de uma exuberância visual a toda prova. Trabalhou novamente com Catherine Deneuve - no todo, foram quatro filmes com uma das mais belas atrizes francesas -, sendo que nesse caso em dose dupla. Catherine faz o papel da rainha à beira da morte e também o de sua filha, a bela princesa por quem o pai, o rei (Jean Marais), se apaixona; após a morte da rainha. No leito de morte da esposa o rei promete que nunca mais se casará, sendo contestado por ela, que exige uma nova união sua, desde que a pretensa futura esposa seja mais bela que ela. Foge da vida e da filha, a quem não acompanha durante o crescimento, notando-a já jovem adulta e apaixonando-se a ponto de fazer a inusitada proposta de casamento.

Nesse verdadeiro conto de fadas musical, existe um asno que - digamos de maneira um pouco menos chocante - defeca moedas de ouro, jóias e pedras preciosas, tornando-se a principal fonte de renda e de desenvolvimento do rei, à moda da famosa "Galinha dos ovos de ouro". Mas, de maneira distinta, também, já que no conto em que a fonte de renda é o galináceo, os caminhos escolhidos são diferentes e remetem à inveja, ao desejo de posse do bem alheio. No caso do jumentinho não há o desejo ostensivo por parte de outros, mas o destino reservado a ele evidencia o que a luxúria e o desejo podem causar na cabeça do homem. Na tentativa de fugir do casamento proposto, a princesa procura o auxílio de sua fada-madrinha - estamos dentro de um conto de fadas, não? - que a aconselha a enrolar o pai com pedidos complexos; de presentes aparentemente impossíveis de serem confeccionados. E aí uma das melhores facetas do filme toma corpo, denuncia uma opção estética elaboradíssima para a sua composição, de tremendo bom gosto e excelente resultado. Ao pedir vestidos que tenham o brilho da lua ou o do sol, Jacques Demy, seu diretor de arte Jacques Dugied e seu fotógrafo Ghislain Cloquet encenam momentos de estupendos tratamentos cromáticos e de luz. As "luzes" que iluminam a sala do rei com um tênue azul - no caso do vestido-lua - ou com um dourado translúcido - vestido-sol - raras vezes tive a oportunidade de ver igual.

Já como musical, colam nos tímpanos as músicas cantadas por Deneuve ou pelo seu papagaio de estimação - aliás é dele o maior "hit" do filme. Músicas leves na sonoridade - verniz -, com resultado bastante datado, mas que não desagradam; letras que tem o que dizer, por trás da aparente ingenuidade - nódulos, cupins. Faixas, aliás, compostas pelo grande Michel Legrand, repetindo mais uma vez a parceria de Guarda-Chuvas do Amor.

O filme nos fala de coisas a serem entendidas através de outra chave para a compreensão, por outras vias, por segundas intenções - como num conto de fadas, afinal. Das atitudes ensandecidas e desapegadas que movem almas apaixonadas e desejosas.

Fala até de diferenciações sociais: é bastante interessante o momento em que o príncipe - sim tem um príncipe também, duvidavas? - convoca a todas as donzelas do reino para que provem um pequeno anel a fim de saber a sua origem, e oferecendo como resultado de tal "expedição", casamento e boa vida. Centenas de jovens donzelas comparecem para o evento e são colocadas numa fila que se inicia pelas princesas, seguidas das duquesas, condessas e marquesas. Após, um segundo pelotão: criadas, cozinheiras e arrumadeiras. Parece até coisa de Buñuel ou Altmann.

Curiosamente, tem aparência de ser mais antigo. Tem uma certa cara de anos 1960, com o sistema de cor adotado que as apresenta claras, vibrantes, mas "secas" demais. Filmado com bastante rigor no enquadramento, não se nota nenhuma tomada descuidada - chega a chamar a atenção o cuidado do diretor em não desperdiçar espaços, em não deixar quinas e cantos à toa, centralizando quase que milimetricamente todos elementos dentro das cenas. Um musical deslavadamente feito para os apaixonados e os de boa alma; por sua camada externa e mais superficial.

Cid Nader é editor do site Cinequanon.art.br

Nota do Crítico

Ótimo
Cid Nader

Pele de Asno

Peau d´Âne

1970
100 min
Fantasia
País: França
Classificação: 12 anos
Direção: Jacques Demy
Elenco: Catherine Deneuve, Jacques Perrin, Jean Marais, Delphine Seyrig, Fernand Ledoux, Micheline Presle, Sacha Pitoëff, Henri Crémieux, Pierre Repp, Louise Chevalier, Patrick Préjean, Michel Delahaye
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