Os Seus, os Meus e os Nossos | Crítica
Os Seus, os Meus e os Nossos
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O tempo passa e parece que a criatividade dos roteiristas norte-americanos é disfarçada por modismos. Tivemos as continuações. Depois foi a vez das trilogias. Agora o mal são as refilmagens. Todo mês, pelo menos uma delas estréia no circuito comercial. A bola da vez é Os seus, os meus e os nossos (Yours, mine and ours, 2005), remake do filme homônimo de 1968, que recebeu duas indicações ao Globo de Ouro - Melhor Filme e Atriz (Lucille Ball) de comédia na época.
Frank Beardsley, um viúvo com oito filhos, encontra sua namoradinha de adolescência, Helen North. Ela, também viúva, mas com dez filhos, sente a mesma atração. Sem pestanejar, eles se casam sem contar para seus filhos. Infelizmente para Frank e Helen, as famílias não se dão tão bem quanto os recém-casados esperavam. Eles provavelmente deveriam ter pressentido o choque de culturas: os disciplinados Beardsleys fazem tudo seguindo as regras; para os energéticos e vivos Norths, não há regras. Infelizes, as crianças bolam um plano para acabar com o casamento.
Bem, a trama não mudou muito, mas a qualidade rolou ladeira abaixo. Na nova versão, os lendários Henry Fonda e Lucille Ball foram substituídos por Dennis Quaid e Rene Russo. Nada contra o casal contemporâneo, que já provou em outras produções ter talento, mas comparar com Fonda e Ball é covardia. Por isso, tudo que era divertido e inteligente foi substituído por piadas visuais. A todo instante Frank é atirado em recipientes com tintas e líquidos asquerosos de diversas cores para ficar bastante lambuzado e assim tentar arrancar algumas gargalhadas.
O roteiro sem vida e idiota da dupla Ron Burch e David Kidd aposta todas as suas fichas nesse tipo de humor fácil e rasteiro. Até porque nos anos 60 era realmente um tabu tentar juntar duas famílias enormes tão díspares. Hoje em dia, quando as pessoas se separam com a mesma facilidade que vão ao shopping, isso é bastante natural e a tentativa de se adaptar aos novos tempos restringiu-se só no objetivo dos filhos infernizarem a vida conjugal de seus pais. Erroneamente se esqueceram que o religioso controle militar de Frank em contrapartida ao estilo hippie de Helen poderia render piadas bem mais interessantes.
A produção não tem nenhuma seqüência criativa ou original. Falta oxigenação nos neurônios dos realizadores, que baseados na premissa "filme para toda a família no final de semana" só querem faturar mais uns trocados. Nem as crianças/atores conseguem conquistar o espectador. No final, o único ser inteligente dessa refilmagem é um porquinho roliço e mal-educado. Com certeza, somente ele mereceria cachê.
O filme é dirigido pelo "excelente" Raja Gosnell responsável pelos dois filmes do Scooby-Doo, Nunca fui beijada (1999), Esqueceram de mim 3 (1997) e a Vovó...zona (2000). Mas não entenda esse adjetivo como um elogio ao seu trabalho, mas sim ao seu poder de persuasão. Como é que ele consegue convencer os executivos de Hollywood a continuar deixando-o tocar projetos que envolvem milhões de dólares? O pior é que três grandes estúdios (Sony, Paramount e MGM) se uniram para conceber essa bobagem. O desespero criativo é coletivo.



