O Pequenino | Crítica
O pequenino
![]() |
||||
|
||||
![]() |
||||
![]() |
||||
![]() |
||||
Depois de As Branquelas (White Chicks, 2004), não é de se espantar que os irmãos Wayans tenham escolhido como próximo filme O Pequenino (Little Man, 2006), outra comédia cheia de transformações físicas, via maquiagens e efeitos computadorizados. É a ânsia de transfigurar-se, de apresentar algo diferente ao público e de experimentar novidades no set de filmagem. O problema é que falta talento - tanto para fazer o básico quanto para arriscar algo novo - e sobram orifícios.
Não importa se o tema são loiras, bebês ou filmes de terror (os Wayans são os responsáveis pelos dois primeiros Todo mundo em pânico): as piadas vão sempre se limitar a golpes no saco, sexismo, racismos e flatulências. A diferença aqui é que as piadas de pum ganham o reforço das situações de cocô na fralda.
Na história, Shawn Wayans vive Darryl, um homem tão desesperado para ser pai que confunde um larápio mirrado com estatura de bebê, Calvin (Marlon Wayans), com um recém-nascido abandonado. Calvin acabou de assaltar uma joalheria e precisa de um disfarce para fugir ileso com seu diamante. Darryl e sua esposa, Vanessa (Kerry Washington, a Alicia de Quarteto Fantástico), aceitam o bebê em casa, mas desconhecem seu passado criminoso.
O fato do diretor Keenen Ivory Wayans não saber nada de gramática cinematográfica - os cortes desconjuntados de planos e contraplanos matam a narrativa e o tempo das piadas - é desculpável. Em Hollywood poucos sabem de verdade mexer com a linguagem do cinema. O que mata O Pequenino é a tentativa de tirar um longa-metragem inteiro de uma única situação (que nem é tão engraçada assim), a do homem travestido de bebê. Gags manjadas como mamar no peito da loira gostosa não pagam o preço do ingresso - nem o futuro preço da locação.
Mas sempre dá para piorar. Com recursos amadores de computação gráfica, por exemplo. A cara de Marlon Wayans é inserida digitalmente, durante todo o filme, no corpo de um anão. É embaraçoso ter que reparar no rosto mal emendado na cabeça enquanto o filme tenta se desenrolar... Não custava nada colocar um ator-anão de verdade ali, sem remendo de pós-produção, e guardar Marlon, o mais popular dos Wayans, para outro papel.
Aliás, não custava nada também ser um pouco corajoso. O grande pecado dos Wayans, principalmente nesta fase de deslumbramento infantil com as magias do CGI, é desconhecer o potencial do absurdo. Comédias como Irmãos Gêmeos (1988) arriscam todas as suas fichas em situações absurdas, como fazer todo mundo acreditar que Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito são idênticos. Se O Pequenino tivesse vestido Marlon, com seu 1,84 metro de altura, com uma roupa de bebê gigante, o humor brotaria do fato dos personagens acreditarem que ele é, sim, um bebê.
Jogar com legitimação - os personagens acreditam em algo tão absurdo que o espectador se sente instigado a acreditar também - seria o melhor caminho para o filme. Do jeito que saiu, é só lamento.



