Despretensioso, O Nascimento do Mal equilibra susto e sentimento
Melissa Barrera lidera terror de maternidade com performance certeira
Créditos da imagem: O Nascimento do Mal
No título original, O Nascimento do Mal se chama “Bed Rest” - algo como “repouso de cama”, ou repouso total, se quiser -, um nome que faz bastante sentido para um filme protagonizado por uma grávida que sofre uma queda e precisa ficar de repouso absoluto. Esta é a premissa de Nascimento do Mal. É uma ótima premissa, muito bem desenvolvida na aliança entre a diretora Lori Evans Taylor e a protagonista Melissa Barrera, e sobre a tradução convém sublinhar: não, O Nascimento do Mal não tem nada de Anticristo ou bebês demoníacos.
Na realidade, este é um filme muito mais singelo do que seu nome em português e seu cartaz sugerem. Explorando os desafios da maternidade - tópico sempre frutífero no gênero - este novo terror psicológico gira em torno do medo da perda, do trauma, das fragilidades da gestação. É na vulnerabilidade da nossa protagonista (que, claro, tem um passado a ser lidado e um marido questionável) que O Nascimento do Mal tira sua tensão principal.
Mas é antes da queda que conhecemos o casal Julie e Daniel (Guy Burnet), que começa se mudando para uma casa grande demais para os dois. E este é um filme de terror, então não demora para que Julie comece a ver coisas estranhas, caia da escada e seja aconselhada fortemente ao repouso. É aí que entendemos melhor o passado deste casal, que perdeu seu último filho durante o trabalho de parto, e vive na sombra deste luto.
Acontece que Julie, também, entrou em uma severa depressão após o aborto e sofreu por meses com alucinações de seu filho. Por isso, quando a futura mãe passa a ouvir barulhos sinistros na casa e ver seres que ninguém mais parece enxergar, sua sanidade é colocada novamente em questão, e sua situação, já sufocante, se torna ainda mais angustiante.
É admirável, para começar, a habilidade de Taylor de sustentar o seu filme de estreia quase que inteiramente em uma cama. Não é uma tarefa fácil, mas O Nascimento do Mal nunca se arrasta e consegue sempre encontrar um ou outro susto realmente eficiente. Isso tudo é fruto da direção envolvente e é mérito também de Barrera, que encontra o equilíbrio perfeito em uma performance tão vulnerável quanto resistente. As duas forças são importantíssimas para que O Nascimento do Mal não decepcione no quesito susto, mas é no roteiro (também de Taylor) que está a beleza real desta história.
É na reta final, que, claro, não será detalhada aqui, que a trama de Bed Rest realmente se lapida. Assim como O Orfanato fez em 2007, O Nascimento do Mal não desperdiça o tema da maternidade e demonstra habilidade em introduzir, desenvolver e principalmente fechar uma história super bem amarrada em torno da perda e da nova gravidez de Julie. É até estranho falar que um terror psicológico tão eficiente tem um final adorável, mas o desfecho que Taylor dá para sua história é certamente seu diferencial. Com surrealidade e ousadia perfeitamente calibradas, O Nascimento do Mal é aquele terror que nem precisava ser tão bom - mas é.