O Mundo de Jack & Rose | Crítica
O mundo de Jack & Rose
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Vamos lá, esqueça os personagens óbvios logo de cara. Isso é essencial. Jack e Rose, pai e filha explicitados no título, não têm papéis solo no desenrolar deste filme. A explosão aqui se segura tão somente no complexo "&" entre eles.
Contextualizemos. Refugo sobrevivente do pensamento livre dos anos 60/70, Jack (em interpretação soberba de Daniel Day-Lewis) é o último morador de uma comunidade riponga em uma ilha afastada do "mundo real". Foi lá que ele, carregado de idealismo, criou sua filha Rose, protegendo-a sob suas asas - como protege do progresso a flora ao redor da casa -, poupando-a da crueldade da vida externa. É o extremo do relacionamento fraternal, e é aqui que chegamos ao ponto primordial do filme.
Por trás da rotina idílica, os dois são atormentados pela doença terminal dele e pelo desabrochar púbere dela, problemas que vêm à tona nos silêncios. Jack se preocupa com o futuro de Rose, que só liga para o não-futuro do pai.
Para tentar rearranjar o destino da cria, ele convida Kathleen - sua namorada secreta, com quem tem um surreal relacionamento à distância - para morar na comuna. Ela, por sua vez, traz na bagagem seus dois filhos adolescentes, criando o cenário para o estopim.
Rose, interpretada pela lindinha Camilla Belle (que é filha de brasileira, o que na verdade não tem a menor importância), é uma Lolita perdida nos cenários de A lagoa azul. É a candura em pessoa, que tem sua cabeça virada pela "traição" do pai em carregar elementos estranhos à sua ambígua vida de casal. A ingenuidade se transforma em selvageria inocente até sua rendição final.
O mundo de Jack & Rose (The balad of Jack and Rose, 2005) é como uma gigantesca balada folk, cheia de reviravoltas e simbolismos - não é à toa que as canções de Bob Dylan têm presença maciça na trilha sonora. A diretora Rebecca Miller (O tempo de cada um) faz aqui um longo estudo dos limites entre o amor fraternal e a obsessão pela continuidade.
Mas falar mais é estragar as cambalhotas desse filme precioso, em que os personagens principais são meros coadjuvantes em relação ao tufão entre eles. Veja por si mesmo.


