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O Mercador de Veneza | Crítica

O Mercador de Veneza

03.11.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

O Mercador de Veneza
The Merchant of Venice
EUA / Itália / Luxemburgo / Inglaterra, 2004
Drama - 138 min

Direção: Michael Radford
Roteiro: Adaptação de peça de William Shakespeare

Elenco: Al Pacino, Jeremy Irons, Joseph Fiennes, Lynn Collins, Zuleikha Robinson, Kris Marshall, Charlie Cox, Heather Goldenhersh, Mackenzie Crook, John Sessions, Gregor Fisher, Ron Cook, Allan Corduner, Anton Rodgers

Os dilemas morais e éticos, herança da tragédia grega, são o forte da obra de William Shakespeare (1564-1616). Hamlet e Macbeth são os seus melhores exemplos, mas O mercador de Veneza, clássico de 1596, também se enquadra entre as peças do bardo inglês que evitam o maniqueísmo e levantam questões muito acima do Bem e do Mal. A nova versão da história para as telas, dirigida por Michael Radford, tenta preservar essa complexidade.

Na trama, o jovem e livre Bassanio (Joseph Fiennes, mau ator que se sai bem com diálogos declamados) aproveita o poder que sua beleza exerce sobre o amigo Antonio (Jeremy Irons, impecável, ciente da ambiguidade do personagem) para pedir, com jeito e cerimônia, uma quantia de dinheiro a fim de cortejar uma rica herdeira. Antonio é um comerciante exitoso, dos mais tradicionais de Veneza, porém seu dinheiro está investido em embarcações que navegam em águas incertas na Ásia e no Novo Mundo. Só há uma maneira de ajudá-lo: pedir um empréstimo ao judeu Shylock (Al Pacino, cada vez mais maneirista), que faz da agiotagem, prática ilegal na cidade, o seu ganha-pão.

Shylock vive desse jeito, aparentemente, por lhe faltar alternativa. Os judeus, tidos como estrangeiros gananciosos, não têm os mesmos direitos dos cristãos na Itália. São insultados, apedrejados, precisam trafegar pelos canais e pelas pontes com uma boina vermelha - sinal que facilita a vigia. A primeira sequência do filme já demonstra que a rivalidade religiosa terá desdobramentos: Shylock tenta cumprimentar Antonio, que responde com uma cusparada na cara do judeu.

Agora, é Antonio quem pede desculpas em nome do dinheiro, em nome da amizade com Bassanio. Shylock sugere o seguinte acordo: se o débito não for pago em três meses, o cobrador receberá como pagamento um pedaço da carne do comerciante. Bassanio se opõe, Antonio aceita, sem medo de se ferir. Fica evidente, independente do sucesso de Bassanio como galanteador de moças, que Shylock busca por vingança. E o que O mercador de Veneza faz é transcorrer paciente como uma ampulheta, num balé funebre de gôndolas sobre as águas, até chegar o momento do acerto de contas.

E a grande questão moral é: Shylock, os judeus, têm ou não direito de revidar? Meandros do direito adquirido, da justiça dos homens e da justiça de Deus, da responsabilidade diante dos próprios atos e dos atos alheios - é essa a pauta shakespeareana em discussão. Esse debate transcorre numa linguagem fiel ao original, cheia de discursos graves e falas empoladas - o que pode desagradar o público mais acostumado com naturalismos. Radford é um acadêmico (ou burocrata, dependendo do ponto-de-vista), não se arriscaria numa adaptação diferente.

Vale lembrar, como contraponto, que os atores Patrick Stewart e Ian McKellen, dois doutores em Shakespeare, se preparam para criar uma versão modernizada dO Mercador - ambientada no Resort Veneza no coração de Las Vegas, entre apostadores e mafiosos. Quem busca leituras mais arejadas do clássico pode esperar boa coisa. Quem se contenta com o feijão com arroz está bem servido com Pacino e Irons.

Nota do Crítico
Regular
O Mercador de Veneza
The Merchant of Venice
O Mercador de Veneza
The Merchant of Venice

Ano: 2004

País: Eua/itália/inglaterra/luxemburgo

Classificação: 14 anos

Duração: 138 min

Direção: Michael Radford

Roteiro: William Shakespeare, Michael Radford

Elenco: Al Pacino, Jeremy Irons, Joseph Fiennes, Lynn Collins, Zuleikha Robinson

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