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Crítica

O Chamado 3 | Crítica

Continuação sem rumo patina em escolhas duvidosas

02.02.2017, às 14H25.
Atualizada em 02.02.2017, ÀS 16H02

Doze anos depois do segundo longa americano inspirado na franquia de terror japonês, O Chamado está de volta. O título original de O Chamado 3, Rings, promete uma continuação à moda Aliens - daquelas que, na falta de uma ideia melhor, se justificam multiplicando as ameaças dos longas anteriores. Aqui não temos várias Samaras, necessariamente, e sim uma rede estabelecida de "tails": várias pessoas que são convencidas a assistir a novas cópias da fita, para livrar outras tantas pessoas da maldição dos sete dias.

É com essa premissa próxima do ciberpunk que o diretor espanhol F. Javier Gutiérrez estreia em Hollywood, e seria uma bem-vinda arejada na franquia se esse conceito - a lenda urbanda de Samara transformada em experimento coletivo - fosse levado a cabo até o fim do filme. Afinal, como estender a franquia e lhe dar uma sobrevida, e ao mesmo tempo modernizar O Chamado? Faria sentido que, 13 anos depois da trama do primeiro longa, Samara motivasse uma subcultura ou pelo menos um pequeno culto. O novo Bruxa de Blair soube explorar de um jeito interessante essa consciência do seu próprio legado.

O Chamado 3, porém, prega para os convertidos, acomoda-se sem novidades na velha noção da lenda urbana e se contenta em aprofundar o backstory com um punhado de serviços aos fãs. Acompanhamos um casal absolutamente desinteressante - Julia (Matilda Lutz) e Holt (Alex Roe) - enquanto eles cumprem as obrigações da trama expositiva, desencavando mais segredos sobre o passado e a vida de Samara. São um casal banal, acima de tudo, porque o filme mal se presta a lhes dar uma vida própria, com um passado, com conflitos ou personalidade; de Julia só sabemos que é a namorada devotada de Holt, e Gutiérrez não parece interessado nem em transformá-la numa scream queen fetichizada.

Fica a impressão de que todos esses anos de desenvolvimento - em que três roteiristas mexeram no filme, inclusive o incensado Akiva Goldsman - fizeram de O Chamado 3 um Frankenstein de propostas. Há um conceito modernizante no começo, há um gancho no final que instiga para o futuro da série, mas o miolo é o mais completo protocolo. Não ajuda o fato de Gutiérrez patinar na hora de definir um projeto visual; a fotografia varia entre o verde musgo derivativo de David Fincher e cenas bizarramente banhadas de luz com Julia e Holt na intimidade, como se estivessem num comercial de matinais low-fat em Venice Beach, um artificialismo que soaria falso em qualquer filme e sem dúvida fica muito deslocado em O Chamado 3.

No geral, o espanhol faz um filme que, à parte a indecisão estética, carece de uma esperteza na hora de definir seu tom geral. É um terror sem senso de ridículo (a sequência inicial no avião é tão ruim que parece um filme paródico dentro do filme, daqueles que os personagens reais ririam diante da TV em casa, se estivesse não em O Chamado e sim em Pânico) ou senso de humor mesmo, o que pelo menos aliviaria com algumas sacadinhas a falta de inspiração generalizada que o assola.

Nota do Crítico
Ruim
O Chamado 3
Rings
O Chamado 3
Rings

Ano: 2016

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 124 min

Roteiro: Akiva Goldsman, David Loucka

Elenco: Aimee Teegarden, Johnny Galecki, Lizzie Brocheré, Bonnie Morgan

Onde assistir:
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