Em 9 Milhões de Cores, se ver pelos olhos de outro também é uma prova de amor
Curta-metragem abusa da imaginação e faz da lógica um recurso dispensável
Créditos da imagem: Divulgação
Amores improváveis surgem dos lugares mais inesperados. Inclusive, é o que defende o curta 9 milhões de Cores, no fundo do mar. É isso o que defende a diretora tcheca Bára Anna Stejskalová nessa história, onde conhecemos Fran, um camarão mantis psicopata que, com suas garras afiadas, fez do oceano seu domínio pessoal. O pequeno predador enxerga tonalidades que nós humanos sequer conhecemos, e a cada massacre, o sangue das vítimas torna seu horizonte ainda mais colorido.
Durante sua marcha da morte, o pequeno Fran conhece Milva, uma peixe-cega que sofre bullying de outros animais marinhos. Inofensiva e sem graça para a maioria dos outros animais, ela se torna linda aos olhos do bad boy marinho, que se dedica a alegrar sua nova. Enquanto Fran vive com uma infinidade de pigmentos a sua volta, Milva parece estar em um verdadeiro breu, até o dia em que ele decide arrancar os olhos de um caranguejo e presentear a amada.
Aquele gesto muda tudo, e agora ela enxerga um mundo preto e branco e quase sem luz — mas é o bastante para entender quem a criatura que vivia ao seu lado. A peixinha se dá conta da natureza cruel de Fran, e para repreendê-lo, se afasta, até ser levada por uma gaivota. Nesse momento, o protagonista se encontra completamente desolado e nem mesmo seus olhos o livram da cegueira do amor. Vislumbrando um futuro sem a amada, o camarão decide arrancar os próprios olhos.
Após uma reviravolta tão fantástica quanto o conceito de romance entre peixes, os dois amantes se reencontram, porém, já não são mais os mesmos. Eles mudam um pelo outro, não pela obrigação de se encaixar na vida a dois, mas pelo desejo de serem melhores para si próprios. Ao se enxergarem pela perspectiva um do outro, eles evoluem como personagens: o camarão outrora assassino se reconhece como alguém tóxico para seu ambiente e decide melhorar, enquanto a pobre peixinha-cega percebe que, às vezes, é preciso lutar ferozmente pela própria sobrevivência.
Essa linda história fica ainda mais potente quando unida ao estilo vibrante de Stejskalová. A diretora explora ao máximo o uso e a combinação de tons para entregar uma experiência próxima do que seria enxergar o mundo pelos olhos de um mantis. A temperatura das cores guia o espectador pelo humor de cada cena, dando a elas um objetivo lógico para além do estético. Tudo isso funciona em um mágico stop-motion musical, capaz de trazer irreverência até nas cenas mais sangrentas do projeto.
Misturando comédia e dark romance, 9 Milhões de Cores tem uma mensagem clara sobre como o poder do amor é capaz de nos tornar pessoas melhores para nós e para o mundo. Mesmo que sem nenhuma palavra, o roteiro se mostra inovador e eficiente, proporcionando uma deslumbrante experiência sensorial que prova que nada é impossível na animação, muito menos o amor.
9 Milhões de Cores
9 Million Colors
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