Nouvelle Vague (2025)

Créditos da imagem: Divulgação

Filmes

Crítica

Nouvelle Vague recria bastidores de clássico de Godard com filme saltitante

Richard Linklater nos transporta para a Nova Onda Francesa com trabalho de poucas ambições mas muito carinho

Omelete
4 min de leitura
18.05.2025, às 09H00.
Atualizada em 27.05.2025, ÀS 08H38

Há um prazer muito instintivo em Nouvelle Vague, e a forma mais simples de descrevê-lo é com uma comparação. Este filme, que fez a Salle Debussy do Festival de Cannes explodir em alegria (especialmente no caso dos franceses), oferece aos cinéfilos uma experiência semelhante ao que quem viu 19 filmes da Marvel sentiu em Vingadores: Ultimato. Há referências e personagens por todo lado, e o longa de Richard Linklater sobre os bastidores de Acossado de Jean-Luc Godard pulsa com carinho e amor pelo mundo que está retratando.

Mas assim como um filme de heróis não pode viver só de fanservice, esse recorte de um momento lendário – o auge da Nova Onda Francesa que nos deu Godard, François Truffaut, Claude Chabrol, Agnes Varda e tantos outros – precisa usar isso como ponto de partida para criar algo genuíno e próprio. Linklater encontra uma solução para isso através de um trabalho ímpar de construção de atmosfera, inundando cada esquina da Paris do fim dos anos 1950 com detalhes que fazem a cidade das luzes brilhar como no icônico momento em que as luzes da Champs-Elysées se acendem em cima do Michel de Jean-Paul Belmondo.

Esta clássica cena de Acossado, aliás, é uma das que vemos aqui, mas Linklater não para por aí. Ele filma uma conversa de Godard e seu produtor no carro exatamente como o francês fez com Belmondo e Jean Seberg, caminha por cenários eternizados pelo clássico de 1960 e usa parte da linguagem, tonalidade e texturas da época para ilustrar tudo. Mas talvez o ingrediente mais importante seja, na verdade, o que não está lá: prepotência. Tudo isso fica para a figura de Godard, de quem Richard Linklater não tem medo de rir. Suas frases cinéfilas cabeçudas provêm Nouvelle Vague com a carga necessária de humor para não deixar o filme parecendo uma cinebiografia com uma opinião alta demais de si mesma.

Nouvelle Vague (2025)
Divulgação

O que não quer dizer que Nouvelle Vague não reflita com a importância e energia daquele momento, mas ele vibra ainda mais por tratar aquilo tudo como parte do cotidiano daquelas pessoas. É profundamente especial, claro, mas é também o dia-a-dia, com suas horas monótonas e banais. Afinal de contas, parte da força da Nova Onda Francesa veio em mostrar aos jovens franceses filmes cujas histórias e ambientes seriam algo que eles reconheceriam. Não há artifícios cinematográficos engrandecendo artificialmente o momento em que Godard filma a conclusão de Acossado, a não ser o trabalho de direção de arte fidedigno que pauta toda a obra, a fotografia preta e branca recheada de textura e vida, e um elenco que encara uma missão quase impossível com leveza e excelência.

Guillaume Marbeck se anuncia instantaneamente como melhor Godard do cinema, encenando seus gestos, discursando suas ideias e praticando seu cinema sem transformar o diretor numa caricatura ou numa imagem. Sua versão de Jean-Luc é, claro, mais simpática que a figura real, mas funciona como protagonista de um longa mais saltitante do que mitológico. À sua volta, Zoey Deutch brilha dando uma interioridade marcante como Jean Seberg, mas a revelação de Nouvelle Vague é o Belmondo de Aubry Dullin, que entrega um trabalho genuinamente impressionante como alguém que parece cheirar seu futuro como superestrela, mas que não se importa (ou não demonstra se importar) com isso o suficiente para deixar de ser descolado no aqui e agora.

Há muitos outros, claro. Suzanne Schiffman (Jodie Ruth Forest), Truffaut (Antoine Besson) e Chabrol são os que recebem mais destaque entre os lendários membros da Cahiers du Cinema. Cineastas como Melville, Bresson, Rossellini aparecem, e boa parte desta trupe entrega ao menos um momento ou cena capaz de gerar risadas e reconhecimento. Na verdade, essa é a maior constante sobre Nouvelle Vague, que transborda com afeição e bom-humor pelo seu universo e suas pessoas para gerar pouco mais do que isso: risadas e reconhecimento.

Linklater nem sempre é um cineasta de grandes intenções, e encontra boa parte de seu sucesso na qualidade desleixada de seus melhores filmes. Aqui, porém, dada a quantidade de bagagem que acompanha uma visita à Paris no meio do século passado, é surpreendente o quão pouco ele tira disso tudo, tematicamente. Para além de 105 minutos divertidos na companhia de pessoas cuja arte viverá para sempre, Nouvelle Vague não faz grandes coisas. Essa atitude conservadora é, por um lado, compreensível. Quantas vezes filmes sobre artistas deste grau não sofrem por tentar superdramatizar, digamos, o ato de criar? Godard teria rido de um longa que adicionasse firulas a seu trabalho nos bastidores de Acossado, e talvez pensando nisso, Nouvelle Vague está contente em recriar e entreter, apenas.

Nouvelle Vague (2025)
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É inteiramente possível que esta seja a escolha mais sábia, mas artisticamente, ela é, também, de pouco impacto, além de limitar o alcance narrativo de Nouvelle Vague para quem reconhecerá nomes como Raoul Coutard e apreciará as caras e bocas feitas por Matthieu Penchinat no papel do diretor de fotografia enquanto este escuta a nova ideia mirabolante do realizador. Mas, se filmes de franquia conseguem agradar com base no conhecimento prévio, não há razão para descartar o que Nouvelle Vague faz. Pode não ser muito, mas tudo que está em tela é genuinamente prazeroso.

Nota do Crítico
Bom

Nouvelle Vague

Nouvelle Vague

Ano: 2025

País: Estados Unidos, França

Direção: Richard Linklater

Elenco: Zoey Deutch

Onde assistir:
Oferecido por

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