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Nocaute | Crítica

Jake Gyllenhaal canaliza seu melhor Jake LaMotta em mais um desafio ao Oscar

10.09.2015, às 17H43.

Podem ser bastante enganosos os filmes de ator - aqueles trabalhos pensados e feitos para destacar uma atuação, para ser conduzidos não por uma engenhosidade de roteiro mas pelo magnetismo de seu astro. Podem ser enganosos porque, a exemplo de Nocaute (Southpaw, 2015), protagonista e filme nem sempre falam a mesma língua.

Dizer que Jake Gyllenhaal substituiu Eminem no longa de boxe do diretor Antoine Fuqua - o rapper seria o protagonista em 2010, antes mesmo da entrada de Fuqua - não é a forma mais precisa de começar. Gyllenhaal na verdade toma o filme para si, como se fosse um projeto pessoal desde o princípio, e faz de Nocaute mais um capítulo na sua epopeia em direção ao eventual reconhecimento da Academia.

Nesse sentido, a trajetória fictícia do boxeador Billy Hope é o pretexto ideal para Gyllenhaal exercitar músculos opostos do seu arsenal de interpretação, das cenas de sofrimento interiorizado, minimalistas, aos momentos de explosão física e verbal, em que o overacting se confunde com o estado de desgoverno do personagem. A comparação imediata é com Jake LaMotta, que permitiu a Robert De Niro se transformar fisicamente em Touro Indomável (e ganhar seu primeiro e único Oscar de protagonista).

Em comum, LaMotta e Billy Hope têm uma tendência autodestrutiva e, principalmente, o temperamento imprevisível dos homens-animais enjaulados. Se Gyllenhaal tem a pretensão de ser visto como uma força imparável da natureza em cena - depois de atuações que mais se confundiam com a esquizofrenia, como em O Abutre e O Homem Duplicado - então ele dificilmente terá outra oportunidade como Nocaute.

Se filme e ator não parecem falar a mesma língua é porque o roteiro de Kurt Sutter e a direção de Fuqua não têm a mesma disposição para a imprevisibilidade que seu protagonista. O arco de redenção de Billy Hope - depois que uma tragédia familiar faz o campeão perder tudo o que estima, e não apenas o seu título de pugilismo - segue as batidas mais esperadas dos filmes de superação esportiva, desde a fase de autodescoberta (com Forest Whitaker muito bem no papel do treinador e aspirante a guru espiritual) até a revanche contra semivilões envergonhados (só Rocky nos tempos da Guerra Fria tinha o despudor de transformar o boxe no cinema numa disputa francamente maniqueísta).

Embora se esforce para dar à sua ambientação novaiorquina o mesmo senso de urgência e autenticidade social de seu Dia de Treinamento, com minorias étnicas muito bem representadas entre o elenco coadjuvante, Antoine Fuqua não consegue transformar Nocaute num drama de párias, como ele visivelmente tenta (as subtramas dos familiares, do garoto no ginásio, a cena dos populares que "invadem" o jantar dos ricos). Seu filme está fadado a ser uma vitrine para Jake Gyllenhaal - e nisso Nocaute tem seu forte e também seu ponto mais vulnerável.

Nota do Crítico
Bom

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