No Other Choice, novo filme de Park Chan-wook, diretor de Oldboy, A Emprega e Decisão de Partir, foi um grande fenômeno durante o Festival de Toronto. Depois de ser aclamado em Veneza, todas as sessões se esgotaram, as filas para ingressos de última hora deram volta no quarteirão e a sessão de imprensa teve mais de uma centena de pessoas ficando de fora. Se a mítica em torno do cineasta sul-coreano já era grande, a recepção de seu novo filme tornou No Other Choice um dos nomes mais concorridos da temporada de festivais e pode levar o diretor novamente ao Oscar em 2026. E com muitos méritos.

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A história acompanha Man-soo (Lee Byung-hun), um homem que trabalha há muitos anos em uma fábrica de papel, tem uma boa casa, uma família com seus luxos, mas que de repente vê tudo sendo posto a perder quando é demitido e não consegue se reposicionar no mercado. As contas chegam, a boa vida começa a ficar apertada e a única solução que ele encontra é eliminar seus possíveis concorrentes.

Adaptando o livro O Corte, do americano Donald E. Westlake, que já ganhou uma versão para o cinema em 2005 - e rende uma dedicatória ao diretor Costa-Gavras nos créditos -, Park Chan-wook mergulha em um olhar que mistura melodrama, comédia e violência para analisar não só o capitalismo e a descartabilidade da mão de obra, como - e principalmente - o comportamento humano para manter o status econômico e social dentro desse sistema. Quem vive com um valor baixo, logo se adapta ao salário maior. E quando o caminho é ao contrário? Como adaptar uma vida de privilégios, quando eles não são mais acessíveis? A resposta de Man-soo é a mais humana e primitiva possível: a violência.

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O grande barato é que o protagonista não é um assassino, tão pouco um homem violento. Um de seus maiores talentos é ouvir rolos de papel para saber se a qualidade está boa ou não. E é aí que entra um dos grandes méritos do filme: Lee Byung-hun. Conhecido dos fãs de Round 6 e mais recentemente como a voz do demônio Gwi-Ma, em Guerreiras do K-Pop, o ator encarna com perfeição a angústia e a perseverança atrapalhada do protagonista. Ao contrário de histórias de vingança como Oldboy, a violência em No Other Choice se torna um obstáculo na vida de Man-soo, uma superação que ele precisa aprender a lidar tanto no ato, quanto com suas consequências. O lado cômico se mistura à fotografia que, voltando a citar Oldboy, é menos plástica e muito mais estabanada. Não espere planos perfeitamente enquadrados e visivelmente coreografados, como a da vingança implacável de Oh Dae-Su no corredor de seu cativeiro. Há uma disputa entre três personagens tentando recuperar uma pistola que é sensacional. A combinação perfeita entre comédia, suspense e drama.

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Park Chan-wook dá tempo para que possamos observar a família de Man-soo. Do cotidiano da esposa (a ótima Son Ye-jin) até as consequências dessa mudança social para o filho mais velho e como a situação familiar afeta a filha menor, uma artista de violoncelo, responsável pela trilha diegética que acelera e diminui o compasso da história. O diretor também contempla mais sobre os próprios alvos de Man-soo (entre eles, o excelente Lee Sung-min), se aprofundando em uma crise socioeconômica não só da Coreia do Sul, mas de seus reflexos na saúde mental e no comportamento de todo o mundo. Ainda que isso dilua o foco na jornada do protagonista, o peso de suas atitudes e a angústia aumentam ainda mais por nos importarmos, e claro, nos identificarmos com ambos os lados.

No Other Choice é um dos grandes filmes de 2025 e mais um exemplo da importância de Park Chan-wook para o cinema mundial. Se há uma universalidade na história de Donald E. Westlake, passada nos EUA (livro), na França (Costa-Gravas) e agora na Coreia do Sul, a condução do diretor torna tudo mais cômico, urgente e humano. A vida de Man-soo está passando diante de seus olhos, sua família se deteriorando a cada minuto e Park Chan-wook foge de qualquer tipo de conforto para contar essa trama que, assim como o capitalismo, não tem tempo a perder. Mesmo que seja nos fazendo rir do desespero.

 

No Other Choice

어쩔수가없다

2025

139 min

País: Coreia do Sul

Direção: Park Chan-wook

Roteiro: Park Chan-wook

Elenco: Lee Sung-Min, Son Ye-jin, Lee Byung-hun

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