Ninguém Sai Vivo Daqui não consegue retratar o horror do "holocausto brasileiro"

Créditos da imagem: Gullane+/Divulgação

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Crítica

Ninguém Sai Vivo Daqui não consegue retratar o horror do "holocausto brasileiro"

Filme que adapta série enxuga desenvolvimentos e perde dimensão da história que deseja contar

Omelete
3 min de leitura
12.07.2024, às 19H07.

Era questão de tempo para que um dos capítulos mais sombrios da história do Brasil chegasse às telonas. A história do hospital psiquiátrico Colônia, localizado em Barbacena, interior de Minas Gerais, onde 60 mil pessoas morreram pelo descaso dos profissionais que lá trabalhavam, ficou conhecida como o "holocausto brasileiro". Esta história foi retratada no livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex, e ganhou sua primeira adaptação em Colônia, série lançada em 2021 pelo Globoplay. Criador da produção, o diretor André Ristum decidiu readaptar a trama no longa Ninguém Sai Vivo Daqui, mas o resultado ficou aquém do produto original.

Ninguém Sai Vivo Daqui conta a mesma história apresentada em Colônia: a jovem Elisa (Fernanda Marques) é internada no hospital psiquiátrico após engravidar do namorado. Como o romance era proibido e a jovem já estava prometida a outro, seu pai decidiu enviá-la à instituição com o intuito de puni-la. Entre abusos e torturas, ela encara os mesmos horrores pelos quais os pacientes passam e se torna vítima do tratamento cruel de médicos e enfermeiras.

Em Colônia, Ristum usou alguns dos casos retratados no livro de Arbex e os transformou em ficção para contar a história de Elisa e outros pacientes do hospital psiquiátrico. Entre eles estavam homossexuais, pessoas em situação de rua ou com deficiência, ou jovens que, como no caso da protagonista, foram enviados para serem "corrigidos".

Para adaptar a trama da série de 10 episódios em um filme de 86 minutos, Ristum precisou enxugar grande parte da trama para encaixá-la na história de Elisa e sua experiência na instituição. Personagens secundários perderam destaque e histórias paralelas foram apagadas, deixando a narrativa de Ninguém Sai Vivo Daqui opaca e sem a profundidade apresentada na produção do Globoplay.

Para uma obra cujo principal objetivo era expor os absurdos de uma história da vida real, Ninguém Sai Vivo Daqui é incapaz de dar a dimensão do que realmente aconteceu em Barbacena. Mesmo priorizando a jornada de Elisa, o roteiro coescrito por Ristum não consegue construir um arco dramático que faça jus ao sofrimento de sua protagonista, que vai da sanidade ao delírio em poucos acontecimentos. A falta de substância para tratar outros personagens também enfraquece o impacto de histórias como a de Wanda (Rejane Faria), um dos destaques da série do Globoplay, mas que aqui surge apenas como uma sombra de sua versão original.

Filmes como Um Estranho no Ninho e até o brasileiro Bicho de Sete Cabeças retrataram os horrores de hospitais psiquiátricos se apoiando nas raízes de obras de terror, e Ninguém Sai Vivo Daqui tenta fazer o mesmo sem conseguir encontrar seu tom. A trilha soturna de Patrick de Jongh não adiciona tensão em momentos chaves da narrativa e tira força de uma narrativa que se mostrava insossa desde o começo.

O ponto positivo fica para o elenco: Marques é extremamente competente em sua exposição de ascensão e queda - e novamente ascensão - de Elisa, enquanto Augusto Madeira incorpora uma versão machista e ainda mais escrota da famosa enfermeira Ratched de Um Estranho no Ninho. Definitivamente, este é um filme que poderia ter continuado apenas como uma série.

Nota do Crítico
Regular
Ninguém Sai Vivo Daqui
Ninguém Sai Vivo Daqui

País: 2024

Duração: 86 min min

Onde assistir:
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