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Crítica

O Xangô de Baker Street | Crítica

Nem Sherlock Holmes explica essa

19.10.2001, às 01H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 05H14

Sei que muita gente vai ficar brava comigo, mas não consegui gostar do filme O Xangô de Baker Street. Pensei que a repulsa seria generalizada, mas ouvi vários colegas que também viram o filme se derretendo em elogios. Vamos então aos meus motivos.

Veja bem, não tenho preconceito contra o livro do Jô Soares. Na verdade, eu me diverti muito quando o li. Como não sou rato de bibliotecas, logo se vê que há um diferencial nesta ficção ambientada no real (e imperial) Rio de Janeiro do Século XIX. Como poucos conseguiriam, o dono do talk-show mais assistido do Brasil uniu uma história que mistura fatos verdadeiros com personagens e fatos inventados.

Tudo começa quando um legítimo Stradivarius, a mais famosa grife de violinos, é roubado no Rio de Janeiro. O cobiçado instrumento foi um presente do imperador Dom Pedro II para a baronesa Maria Luísa. Como ele não quer que o caso se torne público (principalmente para não causar problemas com sua esposa), o monarca brasileiro chama nada menos do que Sherlock Holmes para desvendar tal sumiço.

Interpretado pelo português Joaquim de Almeida, o detetive inglês vira motivo de piadas tanto no texto de Jô quanto no filme. Pena que o artista não colabore para o enriquecimento do papel. Seu sotaque britânico soa falso e a atuação está longe do brilhantismo. Quem rouba a cena mesmo é o baixinho e elementar Watson (Anthony ODonnel). Cabe a ele o destaque nas melhores sacadas do livro, uma inventando um drinque para o seu chefe e outra no terreiro de umbanda (confesso que me diverti mais quando li esta última seqüência do que quando a vi na telona).

Sem preconceito

Gosto muito do cinema nacional e vou sempre que posso ver uma obra brasuca. Por isso, não quero que venham me acusar de ser vendido à Hollywood. O problema é que a produção, que custou valiosos R$ 10 milhões, não tomou cuidados básicos. O texto, por exemplo, é várias vezes entoado de forma falsa. Fica difícil acreditar que as pessoas falavam daquela forma no século retrasado. A performance teatral dos atores colabora para este anticlima. Um pouco da culpa deve ser jogada também nas costas de quem ficou encarregado do som. Há muito eco nas cenas gravadas no interior dos casarões.

O filme dirigido por Miguel Faria Jr. está na lista dos candidatos a candidatos a concorrer à indicação de melhor filme em língua não inglesa no Oscar 2002. Não chega aos pés de O Bicho de 7 Cabeças e dificilmente deve ser superior aos ainda inéditos, porém bastante festejados, Abril Despedaçado (de Walter Salles Jr.) e Lavoura Arcaica (de Luiz Fernando Carvalho).

Nota do Crítico
Regular
O Xangô de Baker Street
O Xangô de Baker Street
O Xangô de Baker Street
O Xangô de Baker Street

Ano: 2001

País: Brasil, Portugal

Classificação: 14 anos

Duração: 118 min

Direção: Miguel Faria Jr.

Roteiro: Jô Soares

Elenco: Joaquim de Almeida, Anthony O'Donnell, Letícia Sabatella, Cláudia Abreu, Cláudio Marzo

Onde assistir:
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