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Crítica

Miss Bala | Crítica

Candidato mexicano ao Oscar 2012 devolve sentido ao desgastado estilo corpo-a-corpo de filmar

MH
14.10.2011, às 17H49.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Filmar com a câmera colada ao corpo, seguir atrás do protagonista em planos frequentemente longos, revelando entornos mas sem tirar o personagem do centro do quadro, é uma opção de narrativa que tem se reproduzido ano após ano no cinema "de arte", desde que Rosetta, dos irmãos Dardenne, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, em 1999. Mais de uma década depois, seria ainda um estilo de filmar que tem sua legitimidade ou já virou um cacoete de festival?

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Miss Bala, o concorrente mexicano ao Oscar 2012, recorre a essa maneira de contar histórias para nos apresentar Laura (Stephanie Sigman). Não vemos seu rosto; a câmera a segue dentro de casa, ela ajuda o pai e o irmão caçula numa tarefa doméstica. Corta para um local onde Laura encontrará uma amiga. Ela sobe no que parece ser um degrau, e finalmente se vira para a câmera, em close-up. Demora alguns segundos para falar.

É o tempo de notarmos que Laura - nessa posição um pouco acima do solo, como num pódio - além de alta e magra é uma mexicana de Tijuana muito bonita. Faz sentido que ela se inscreva no concurso de Miss Baja California, como descobrimos em instantes.

Não é a primeira vez que o diretor Gerardo Naranjo (de Malachance e Voy a Explotar) recorre a esse tipo de realismo, mas é em Miss Bala que ele encontra sua expressão ideal, fundindo forma (a mise en scène à Dardenne) e conteúdo (a história de um corpo a desfilar) com propriedade, como se não houvesse outra forma possível de fazê-lo. Laura nos conduz pela fronteira México-EUA num constante estado de urgência - tudo aquilo que a dura realidade da região tem a nos mostrar, nós sentimos na pele de Laura.

E uma vez que estejamos colados a Laura, sabemos tanto quanto ela. Não é muito: há um chefe do crime local que influi no concurso de miss, há um agente mexicano trabalhando para os americanos, há os americanos subornados pelo chefe do crime, e há o mistério de um corpo que sumiu.

Seria muita presunção de Naranjo se ele tentasse dar conta de todas as complexas relações de poder que o narcotráfico instalou em Tijuana. Ao optar pela câmera corpo-a-corpo e ao eleger Laura como olhos do espectador, o diretor consegue fazer um registro que, embora seja incompleto, está livre de julgamentos. A completude é uma utopia, de qualquer forma.

Perto do final do filme, vemos o rosto de Laura pelo reflexo de um espelho - um dos muitos espalhados por Miss Bala para nunca perdê-la de vista. Um umidificador de ar cria gotas no espelho, e é como se a imagem de Laura se desmanchasse. Há um certo limite de ofensas que o corpo suporta. Para uma pessoa que estava disposta a oferecer o seu num momento de vaidade, e que viu esse corpo transformado em moeda de troca, até que Laura aguentou bastante.

Nota do Crítico

Excelente!
Marcelo Hessel

Miss Bala

Miss Bala

2011
113 min
Drama
País: México
Classificação: LIVRE
Direção: Gerardo Naranjo
Roteiro: Gerardo Naranjo, Mauricio Katz
Elenco: Stephanie Sigman, Noe Hernandez, Irene Azuela, Jose Yenque, Miguel Couturier
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