Memórias de um Caracol é um retrato tragicômico do nosso vazio existencial

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Memórias de um Caracol é um retrato tragicômico do nosso vazio existencial

Animação indicada ao Oscar nos leva em viagem pelo doloroso caminho da solidão

Omelete
3 min de leitura
28.02.2025, às 17H17.

O que faz de Memórias de um Caracol uma animação tão tocante é a forma como aborda depressão, um dos problemas que mais assola a população mundial nos dias de hoje. Essa ideia das coisas intangíveis que carregamos conosco, como insegurança, traumas, tristeza e solidão, está no cerne da comovente história em stop-motion de Adam Elliot, vencedor do Oscar de melhor curta-metragem animado por Harvie Krumpet, 2004.

O longa de Scott, que também assina o adorável Mary e Max - Uma Amizade Diferente, é o triste conto de uma jovem melancólica chamada Grace Pudel (Sarah Snook). Desde a infância, sua vida retrata fielmente a frase desgraça pouca é bobagem: sua mãe morre no parto; ela e seu irmão gêmeo, Gilbert (Kodi Smit-McPhee), ficam órfãos quando seu pai depressivo e alcoólatra sucumbe à apneia do sono. E então as coisas realmente pioram, para um e para o outro. Grace, como os caracóis de estimação que ela tem como seus amigos mais próximos, só quer rastejar para dentro de sua concha e se esconder do mundo.

Scott se aproveita da animação em stop-motion para deixar o sofrimento de Grace ainda mais palpável. É possível ver todo o sangue, suor e lágrimas despejados em cada quadro, uma prova de que os oito anos que o projeto levou para chegar às telonas foram muito bem aproveitados. Mas a dor da personagem não é crível apenas pela qualidade de sua animação, mas também pelo quão honestos e reais são os seus problemas. Grace perdeu seus pais e foi afastada do irmão sem ter consciência das dificuldades de crescer em um mundo que te nega possibilidades em todas as esquinas, e são poucos aqueles que te oferecem ajuda de forma genuína.

Em Memórias de um Caracol, Elliot criou um mundo caprichoso que em muitos momentos evocam o universo sombrio das obras de Tim Burton. Algumas sequências têm uma estética exagerada e fantasiosa, mas tudo é fundamentado o suficiente na realidade para permitir que suas emoções sejam registradas. Acompanhar a jornada de Grace significa sofrer ao seu lado, mas o filme nunca parece soar apelativo, já que a viagem por sua melancolia nos coloca frente a frente com nossos próprios vazios existenciais, afinal, mesmo que não sofre de depressão já encarou, de alguma forma, a solidão.

Embora Memórias de um Caracol possa, às vezes, buscar o fácil caminho no qual nem tudo tem significado no que define você como pessoa, a maior parte do filme molda Grace perfeitamente, para que possamos entender seu caráter e mentalidade. Não existe mensagem concreta de que há luz no fim do túnel para tudo, mas não faz mal lembrar que um pouco de positividade após uma vida de sofrimentos vem bem a calhar.

*O repórter assistiu ao filme na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2024.

Nota do Crítico
Ótimo
Memórias de um Caracol
Memoir of a Snail
Memórias de um Caracol
Memoir of a Snail

Ano: 2024

País: Austrália

Classificação: 16 anos

Duração: 95 min min

Direção: Adam Elliot

Roteiro: Adam Elliot

Elenco: Sarah Snook, Eric Bana, Jacki Weaver

Onde assistir:
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