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Crítica

Maze Runner: Prova de Fogo | Crítica

Continuação deixa as distrações de lado e se concentra no dilema de uma geração

16.09.2015, às 17H51.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Filmes sempre são um retrato do seu tempo, mesmo inconscientemente, e Maze Runner: Prova de Fogo, segunda parte da adaptação ao cinema da trilogia literária de James Dashner, traduz bem para um universo de ação e ficção científica o drama que aflige os millennials - a chamada "geração Y" que cresceu no século 21 absorvida pelas suas possibilidades de criar e se expressar, mas que encontra dificuldade em transformar esse potencial em projetos reais.

No mundo das analogias de Maze Runner, esse potencial tem cores pós-apocalípticas: um grupo de adolescentes que são imunes a uma doença que dizimou a humanidade passa por cruéis testes de morte, administrados por uma organização de adultos, a CRUEL, para que eles se provem de fato o futuro da raça. Thomas (Dylan O'Brien), o protagonista da história, lidera os jovens num ato de rebeldia contra a CRUEL - e em Prova de Fogo é hora de Thomas decidir o que planeja para o futuro, seu e dos demais.

O fato de Thomas se mostra um líder vacilante ao longo do filme, e um personagem dramaturgicamente superficial, movido mais por palavras de ordem e uma suposta predestinação do que por mérito próprio, demonstra bem o beco-sem-saída que na vida se coloca diante do seu público-alvo - no caso, os adolescentes como Thomas, que tornaram Maze Runner um fenômeno best-seller, e que evidentemente se enxergam no drama dos sobreviventes da saga.

De forma bastante clara, o desenrolar de Prova de Fogo corresponde ao momento de incerteza da formação juvenil quando se deixa o colegial - a obrigatória cena do refeitório em que os jovens se agrupam por afinidade, com o nerd (Aris) sempre isolado no canto - e chega a hora de escolher uma faculdade, um ofício, o resto da vida, enfim. No caso de Prova de Fogo, depois de renegar as escolhas burocráticas impostas pela sociedade (na analogia da fuga para o deserto, depois de presenciar o frigorífico de jovens-gado), Thomas e Cia. têm diante de si outros perigos da vida adulta, como a tentação dos vícios (inscrita na festa de Marcus) e o verdadeiro horror de se tornar só mais um anônimo na multidão (a infecção zumbi).

Enquanto o longa anterior patinava um pouco nos seus esforços de estabelecer uma mitologia de Maze Runner cheia de nomenclaturas e premissas, este segundo longa - como todo filme do meio numa trilogia - consegue se emancipar dessa necessidade de explicar tudo e coloca a jornada como prioridade. As boas cenas de ação pela cidade desértica se beneficiam de um orçamento mais folgado (o primeiro filme custou apenas US$ 34 milhões para ser feito) e Prova de Fogo também testa com arrojo os limites da censura 13 anos nos EUA (as maquiagens das criaturas deformadas pela doença não devem nada ao cinema de horror).

Mas que lição tirar dessa jornada? Todo mundo sempre questiona Thomas, "qual é o seu plano?", e o protagonista, à falta de uma resposta convincente, não parece aprender muito com a pergunta, embora viva repetindo que está "cansado de correr". Na verdade, os demais personagens do seu grupo, como bons millennials, parecem se realizar mais com a noção de serem livres para escolher (eles sorriem em close-ups quando o carro pega a estrada; é o road movie como metáfora maior de um horizonte sem destino) do que com suas eventuais escolhas, propriamente.

Uma das principais diferenças de Prova de Fogo em relação ao livro é que a adaptação demarca bem a liberdade dada a Thomas (ele não adoece e vem ser resgatado pela CRUEL, e a organização dos adultos deixa de ser uma sombra onipresente no filme), mas falta trabalhar melhor o antagonismo com Teresa (Kaya Scodelario), a personagem mais interessante de Maze Runner, que por manter consigo a memória do seu passado, ao contrário de Thomas, tem plena consciência do peso da História que ela carrega nos ombros. Que figura trágica comovente é Teresa, forçada a tomar pelos outros as decisões difíceis.

Teresa - assim como a Katniss de Jogos Vorazes, que abdica da luta por amor à família, aos amigos - se coloca numa posição de martírio porque sua individualidade se anula em nome de um bem coletivo, em nome de uma responsabilidade social. Já a reação de Thomas às adversidades não tem nenhuma particularidade desta nova geração que pode fazer do altruísmo e do engajamento sua bandeira. Pelo contrário, a saída escolhida pelo herói é de um revanchismo arraigado na cultura militarista americana há gerações. Como em muito blockbuster que se recicla ano após ano, em Prova de Fogo a opção pela guerra não é um meio, mas um fim.

Maze Runner - Correr ou Morrer | Crítica

Nota do Crítico
Bom

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