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O francês Dominik Moll tornou-se conhecido dos cinéfilos em 2000, quando lançou o suspense Harry Chegou Para Ajudar (Harry, un Ami qui Vous Veut du Bien) e causou furor em Cannes. Seu novo projeto, Lemming - Instinto animal (Lemming, 2005), cinco anos depois da consagração, faz justiça à espera e não decepciona.
Mais uma vez inspirado no mestre Hitchcock, Moll volta a empregar o humor negro e as reviravoltas no cotidiano para ilustrar um pequeno pesadelo familiar. Desta vez, porém, flerta com maestria com o sobrenatural. Pequenas pinceladas surrealistas ajudam a compôr este quadro perturbador e incerto sobre um jovem casal às voltas com acontecimentos incomuns e seus aterrorizantes desdobramentos.
Alain Getty (Laurent Lucas) é um brilhante designer que trabalha em uma companhia de automação residencial. Seu novo projeto é uma câmera voadora, com a qual é possível identificar e arrumar à distância pequenos problemas domésticos, como vazamentos. Casado com a bela Bénédicte (Charlotte Gainsbourg), ele decide chamar para um jantar seu chefe, Richard Pollock (André Dussollier), e a esposa, Alice (Charlotte Rampling). Mas o encontro não sai como o esperado. Roupa suja é lavada diante de Alain e Bénédicte e o clima torna-se o pior possível, abreviando o encontro. Enquanto isso, a pia da cozinha entope e um pequeno mamífero é encontrado no cano do ralo. No entanto, o pequeno lemingue ainda vive, apesar de quase afogado... mas o que faz o animal nativo dos países nórdicos, conhecido pelo mito do suicídio coletivo de suas populações, na distante França?
A resposta para o enigma é prova da habilidade de Moll como contador de histórias. Cada peça do quebra-cabeças se encaixa com precisão e dá margem a interessantes divagações. Conforme o mistério se desenrola, fica mais dramática a situação dos protagonistas, atingindo proporções perturbadoras.
Moll também é mestre nos enquadramentos, extraindo de cada cena, mesmo das mais banais, o máximo em tensão. Uma seqüência em particular, na qual Bénédicte olha ao redor do quarto de hóspedes de sua casa, é uma aula de cinema. É impressionante como, usando apenas o movimento de câmera e um som de fundo, ele consegue assustar mais do que todos os terrores japoneses somados. E tudo isso com enorme classe, sem a utilização do recurso preferido de 9 entre 10 diretores de suspenses em Hollywood: o susto fácil, dos gritos e aparições. A sugestão de Moll é muito mais forte que isso. É a sensação de arrepio dos quartos vazios capturada em película. Perfeito.
Mas atribuir o mérito de Lemming somente ao seu diretor seria verdadeira miopia. O elenco ajuda a carregar o filme com competência extrema. Cada um dos personagens passa por mudanças comportamentais sutis e seus intérpretes as exibem com elegância. Principalmente a fantástica Charlotte Rampling (Swimming Pool), que, aos 60 anos, aparece ora sedutora, ora absolutamente aterrorizante com seus penetrantes olhos azuis. Afinal, não é qualquer atriz que pode se gabar de ter um verbo batizado em seu nome. O crítico inglês Barry Norman certa vez inventou a palavra Ramplear, que, segundo ele, é a capacidade de certas mulheres de reduzirem homens a um estado de total abandono apenas com sua gelada sensualidade. E Charlotte rampleia como ninguém.
Falar mais a respeito de Lemming pode, e inevitavelmente vai, estragar surpresas do filme. E são muitas delas. Mas se a idéia da produção ainda soa um tanto vaga, tenha a certeza de que se trata de um suspense competente e sem pontas soltas, digno do seu tempo e inteligência.
Lemming - Instinto Animal
Lemming
Ano: 2005
Lançamento: 25.08.2006
Gênero: Drama
País: França
Classificação: 18 anos
Duração: 130 min
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