Karate Kid: Lendas triunfa ao não tratar legado como sua maior virtude

Poucas franquias norte-americanas sabem trabalhar tão bem - e de forma tão respeitosa - o seu legado quanto Karate Kid. O sucesso de Cobra Kai na Netflix foi estrondoso. O spin-off que ressuscitou este universo apresentou a história de Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Sr. Miyagi (Pat Morita) a uma nova geração de fãs. Esse feito se deve muito à forma com a qual seus produtores e roteiristas desenvolveram os chamados legacy characters, abraçando a nostalgia como um importante motor desta nova fase, mas nunca se esquecendo de olhar para frente. Isso só foi possível porque a equipe criativa por trás da série, o trio de fãs Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg, conhecia cada detalhe da história iniciada em 1984 e deram o tratamento que uma franquia tão querida como Karate Kid merecia.

Após experienciar a ressurreição perfeita no streaming, a franquia retorna aos cinemas 15 anos depois de seu último filme com Karate Kid: Lendas, que reúne veteranos de diferentes gerações. Com o trio de Cobra Kai novamente por trás do projeto, o longa ganhou a atenção do público ao anunciar a união de duas figuras marcantes da saga: Daniel LaRusso, o eterno Karate Kid original, e Sr. Han, personagem vivido por Jackie Chan no remake que até então parecia existir apenas em uma realidade paralela. E assim como na série da Netflix, Lendas não se apoia puramente na nostalgia para encontrar êxito.

Tratando-se de Karate Kid, a fórmula básica de Lendas permanece a mesma. O protagonista da vez, Lin (Ben Wang, ótimo no papel), se muda com a família para uma nova cidade (de Pequim para Nova York) e logo se relaciona com Mia (Sadie Stanley) garota cujo ex-namorado é um rapaz tóxico e ótimo em karatê que não aceitou muito bem o término e logo começa a praticar bullying com o rapaz. Nada de novo no front, exceto pelo cenário. Mas ao invés de ir direto para o clássico tratamento de bem contra o mal que colocará rivais frente a frente no tatame, o novo filme toma o tempo necessário para trabalhar as motivações de seu protagonista e criar as pontes que unem nostalgia à nova história.

É no núcleo de Mia que Lendas mais se diferencia dos antecessores. Ciente de que o remake de 2010 já reciclou a história original com uma nova roupagem, o diretor Jonathan Entwistle encontra na relação de Lin e Victor (Joshua Jackson), pai da jovem, uma nova forma de motivar (ou desmotivar) o protagonista em seu caminho nas artes marciais. Se até mesmo a dor do luto já é batida na franquia, o novo filme investe no resgate da confiança, na busca por um propósito maior, sem se dobrar no clichê da vingança ou revanche para atingir o seu clímax final.

Com novos elementos para tornar o molho de sua nova história mais saboroso, Lendas entende que não precisa investir na nostalgia gratuita para encontrar sua razão de existir. É o fan service que funciona mais como alento do que uma necessidade — como sempre deveria ser. Das referências às chegadas de Han e LaRusso, o filme trata seu legado com respeito, mas nunca como prioridade, e é desta forma que ele triunfa. Os acenos aos fãs antigos continuam ali, mas quem decide se aventurar pela primeira vez em uma produção da franquia Karate Kid também é (muito) bem recebido.

Karate Kid: Lendas

Karate Kid: Legends

Ano: 2025

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 118 min min

Direção: Jonathan Entwistle

Elenco: Ben Wang , Joshua Jackson , Ralph Macchio , Jackie Chan

Onde assistir:

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