Logo no início de Justiça em Família, o personagem de Jason Momoa, Ray Cooper, perde sua esposa e segura o choro na frente de outras pessoas. A sequência não é curta: ela mostra o protagonista entrando e saindo de corredores de um hospital, procurando um caminho onde não haja ninguém para que ele possa se debulhar em seu luto. A cena tem uma tensão bem construída, mas derrapa logo em seguida. Não segurando a interpretação de uma cena realmente intensa, quando finalmente pode chorar, Momoa desliza para o dramalhão, e a direção estreante de Brian Andrew Mendoza certamente não é hábil o suficiente para sustentar o que se passa na tela.
O momento é um bom exemplo de como Justiça em Família falha com Jason Momoa. Existe uma boa intenção ali, em querer desconstruir o machão da DC e mostrar seu lado sensível, mas parece que nada no projeto ajudou o ator no processo. Em cima de um roteiro péssimo e uma direção iniciante, o filme da Netflix perde a oportunidade de desenvolver o talento do ator, que não acha espaço nem para se agarrar em seu carisma. Aqui, tanto o protagonista, quanto sua dupla, Isabela Merced, tentam se equilibrar em uma produção fadada ao fracasso.
Justiça em Família começa com uma narração em off de Ray, refletindo sobre a passagem do tempo e a relação entre pais e filhos, texto que parece sair de uma redação do ensino médio. Depois de introduzir a família e perder a matriarca por culpa de uma companhia farmacêutica que retirou um remédio genérico do mercado, o drama da Netflix promete uma vingança de Ray contra os representantes da indústria, se posicionando como filme de justiça social, apesar da construção superficial. Na jornada de Ray, que é acompanhado por sua filha-bússola-moral, existe uma hesitação em se aprofundar em qualquer coisa: seja nas estruturas de um sistema injusto, na ação de um homem comum contra gigantes ou no drama da relação fragilizada entre pai e filha.
No caminho por justiça, existe sim algum espaço para Merced se sobressair, principalmente nas cenas de ação. Apesar de pobremente construídas, as lutas de Justiça em Família são o suficiente para exemplificar o talento da jovem atriz, que parece se esforçar para entregar algum ânimo ao longa. Neste quesito, no entanto, o ator que brilha mais é o vilão interpretado por Manuel Garcia-Rulfo, talvez porque ele tem a melhor cena do filme (o diálogo com Momoa na lanchonete) ou só porque ele parece ser a única pessoa se divertindo com tudo aquilo.
Justiça em Família parece que vai acabar se apagando e esquecido quando inesperadamente fornece um twist. A reviravolta só pega o espectador de surpresa pelo contexto absolutamente morno em que acontece, e apesar de justificar momentos questionáveis da trama (que estavam prontos para entrar nessa crítica), acaba por evidenciar o tropeço de Mendoza em construir uma progressão climática real. Sem aproveitar os pontos fortes de sua estrela, o drama de ação da Netflix não tem nem drama nem ação o suficiente para justificar sua existência.
Direção: Brian Andrew Mendoza
Elenco: Jason Momoa, Isabela Merced