Jay Kelly propõe reflexões, mas acaba como peça publicitária para George Clooney
Com o auxílio de coadjuvantes de luxo, Noah Baumbach está mais interessado em dar um tapinha nas costas de seu astro no filme da Netflix
Créditos da imagem: Netflix/Divulgação
O line-up da Netflix para a temporada de prêmios de 2025 é impressionante. A quantidade de diretores renomados e estrelas de Hollywood que desfilaram pelo streaming até agora é de encher qualquer estúdio de inveja. Jay Kelly, nova produção dirigida por Noah Baumbach — em sua terceira parceria seguida com o streaming, depois de História de um Casamento e Ruído Branco — traz ninguém menos que George Clooney como protagonista, além de Adam Sandler, Billy Crudup, Patrick Wilson e Kristen Wiig completando o elenco.
Clooney vive o personagem que dá título ao filme, um renomado ator americano que começa a enfrentar uma crise existencial sobre sua carreira, o relacionamento com as filhas e figuras de seu passado, após terminar de rodar seu último longa. Ele decide, então, viajar para a Europa para se aproximar da filha mais jovem e usa como desculpa um prêmio no interior da Itália.
Jay Kelly tem tudo que a temporada de prêmios dos EUA costuma amar: figurões no elenco e na direção, além de uma história que fala sobre a indústria, as lutas diárias para manter Hollywood funcionando e astros que supostamente abdicaram da vida pessoal pela carreira. Mas tudo soa artificial, como as propagandas de café espresso que Clooney estrela há anos. Baumbach até cria bons momentos cômicos — o segmento no trem e a briga entre Clooney e Crudup no bar são os melhores. Mas, quando o filme parte para o drama, a coisa desanda de vez.
O diretor e roteirista adiciona tantas mazelas ao “mundo perfeito das celebridades” que se perde naquilo que realmente quer contar, chegando a colocar Patrick Wilson e Isla Fisher em uma cena constrangedora no meio de uma estrada. A trama que acaba ganhando mais atenção é a relação de Kelly com seu agente (Sandler), um devoto que se vê colocado em segundo plano a todo momento. Não há novidade aí, e é o carisma dos astros que torna essa dinâmica minimamente interessante. E quando o filme já parece inchado o suficiente, Baumbach ainda adiciona outra camada na história de paternidade, com a entrada de Stacy Keach.
Aliás, vale dizer que considerar Adam Sandler ou o próprio George Clooney para prêmios, em um ano com grandes atuações masculinas, é completamente desproporcional.
Bem filmado e com paisagens lindas, Jay Kelly se apresenta como um filme de reflexão sobre carreira e fama (até comportamento de internet entra no balaio), mas que nunca chega a discutir nada. O propósito parece sempre direcionado para uma indulgência com o personagem-título e com o próprio protagonista, que só querem fazer as pazes com o mundo que os viu brilhar.
E se já não bastasse o filme se estabelecer como essa biografia “quero-ser-fofa” de astros como Clooney, Baumbach ainda decide encerrar tudo com o maior dos tapinhas nas costas de seu astro: uma montagem que deixaria aquela final de Babilônia, de Damien Chazelle, orgulhosa. Mas a verdade é que Clooney merecia uma homenagem mais caprichada — e não essa peça com cara de propaganda, parecida com aquelas em que ele volta e meia aparece na TV vendendo máquina de café ou relógios de luxo.
Jay Kelly
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