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Crítica

Uma Mulher É Uma Mulher | Crítica

<i>Uma mulher é uma mulher</i>

MH
08.05.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H14

Uma mulher é uma mulher
Une femme est une femme
França, 1961

Romance/comédia
85 min.

Diretor: Jean-Luc Godard
Roteiro: Jean-Luc Godard

Elenco: Jean-Claude Brialy, Anna Karina, Jean-Paul Belmondo, Marie Dubois, Ernest Menzer, Marion Sarraut, Gisèle Sandré

As fotos são em P&B, mas o filme é
de um colorido vibrante, quase kitch

Quando a Nouvelle Vague surgiu, no final dos anos 50, os seus idealizadores eram um bando de jovens críticos de cinema, insolentes e descontentes com o então cinema rebuscado e parnasiano da França. Todavia, os anos mostraram que François Truffaut (1932-1984) não era só um jovem rebelde, que Jean-Luc Godard não era apenas metido a invencionices não-lineares, que Louis Malle (1932-1995) não se limitava a escancarar as fraquezas humanas, e por aí vai.

Mas durante os primeiros anos da revolução estética e narrativa da Nova Onda, muitos filmes surgiam com a intenção de simplesmente cutucar os dogmas da época. Incomodado com a glamourização, com o endeusamento de atrizes, femme fatales, pin-ups e adjacentes, Godard escreveu e dirigiu Uma mulher é uma mulher (Une femme est une femme) em 1961, o seu segundo longa, depois do impacto de Acossado (À bout de souffle, 1960).

Em início de carreira, a modelo Anna Karina, esposa de Godard de 1961 a 1964, interpreta Angela, uma inocente e sonhadora dançarina de striptease. Ela namora Émile (Jean-Claude Brialy), mas sofre com as investidas de Alfred (Jean-Paul Belmondo). A sua rotina não poderia ser menos charmosa. Come ovo frito enquanto fala ao telefone, discute com o namorado por ter deixado o sabonete mole e encharcado, arruma a cama de maneira desajeitada. E o ápice do antiglamour serve de condutor à trama: Angela quer ter um filho.

Do início ao fim - momento em que a questão tem uma resolução inteligente -, Angela só fala da maternidade, sem nunca conseguir instaurar um diálogo satisfatório com os dois homens. O tema da incomunicabilidade, recorrente em toda a obra de Godard, surge aqui na forma de uma comédia pastelão, de situações um tanto nonsense. Em certos momentos, como já prevê o título, o tom é machista. Em muitos, os personagens passam por uma alienação rara, em se tratando de cinema francês. Mas sempre há no ar uma atmosfera leve, como se o filme tivesse sido feito entre amigos, num fim-de-semana.

O que fica mais latente em Uma mulher é uma mulher, na verdade, é a fixação de Godard pelas experimentações técnicas. A película deveria se chamar, aliás, Um filme é um filme, parafraseando o crítico e ensaísta José Lino Grünewald. Os cortes rápidos e as tomadas inusitadas marcam a cena com o propósito de criar humor, mas também de deixar claro que a montagem é a alma do cinema. A todo momento, Angela e Émile discursam com o olhar fixo na câmera, falando diretamente com o espectador. A trilha sonora descontinuada, outro habitual instrumento godardiano, é usado aqui à exaustão. Os protagonistas inclusive se perguntam, regularmente, Seria essa história uma comédia ou uma tragédia?.

Esse desequilíbrio entre conteúdo e forma, em favor do segundo, faz com que Uma mulher é uma mulher perca a sua força. No início dos anos 60, teve uma certa repercussão, assim como outro triângulo amoroso, este mais respeitável, Jules e Jim - Uma mulher para dois (Jules et Jim, de Truffaut, 1962). Hoje, o segundo manifesto de Godard não vai muito além do curioso e do pitoresco.

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