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Às vezes, quando um filme chega ao Brasil arrasado pela crítica estrangeira, as distribuidoras tentam esconder a produção. Duas táticas comuns são a inexistência de sessões para a imprensa especializada ou, quando decidem fazê-las, avisam na última hora e escolhem uma data que tenha outro filme no mesmo horário. No caso de Um Natal muito, muito louco (Skiping Christmas, 2004), a exibição para a crítica foi avisada na véspera e programada para acontecer no intervalo entre dois filmes de outras distribuidoras, em locais diferentes, claro.
Toda essa manobra tinha o propósito de tentar estrear o filme sem que os jornalistas pudessem assistir a um filme reacionário sobre o Natal. Lendo a sinopse parece até um exagero atribuir essa característica à produção, mas não é. Tim Allen faz o papel de Luther Krank, um homem que decide fugir de toda a agitação típica do Natal e sair de férias com sua mulher, Nora (Jamie Lee Curtis). Mas quando a filha do casal resolve, de última hora, passar o feriado natalino com os pais, ele se vê obrigado a organizar de improviso uma festa de Natal para a família.
Essa história com um ar inocente, na verdade parece uma celebração à intolerância. Afinal, todos nós sabemos que desde a era moderna, o Natal virou um negócio. Por trás da mensagem de paz entre os homens, existe um comércio em que comprar, vender e consumir tomou o lugar da religião. Ao perceberem que gastaram 6 mil dólares na decoração do Natal passado, a família Krank resolve viajar para o Caribe. A viagem, além de ser um antigo sonho do casal, seria bem mais barata do que os enfeites deste ano.
Com esse argumento acompanhamos o casal passar por maus bocados na sua vizinhança. Eles são humilhados por seus vizinhos, que não aceitam ver a residência dos Krank sem nenhum enfeite natalino ou luzes. Em certos momentos, o filme lembra aqueles westerns em que a população local lincha e leva para a forca algum inocente. Eles são perseguidos como se fossem terroristas. Até os jornais da cidade apóiam a perseguição.
Os realizadores também devem pensar igual aos vizinhos, já que não constroem nenhum elemento de simpatia com os Krank. Na verdade, chegam inclusive a colocar a esposa de Luther contra ele, que acaba sendo acusado de egoísta.
Mesmo não sendo o diretor do longa, sentimos a mão do produtor Chris Columbus (Esqueceram de mim, Harry Potter) na produção. Ele é um defensor de que filmes de Natal precisam ser necessariamente comédias de pastelão com pessoas se esborrachando como em um comercial de Gelol. O que se vê na tela é de causar inveja às videocacetadas do Faustão. O ator Tim Allen é outro velho conhecido da televisão americana que sempre se associa a algum projeto natalino cinematográfico.
E assim, o que era para ser uma comédia para a família torna-se um libelo à conformidade. No final chega ser patético assistir aos mesmos vizinhos psicopatas ajudando os Krank a decorar a casa. O único ponto positivo foi a não utilização de crianças na produção. Já cansou ver atores mirins nessas produções, sempre mais inteligentes e astutos que os adultos. Pelo menos desta vez ficamos livres disso.
Dizem que na época do Natal a taxa de suicídio aumenta. Também com os filmes até agora exibidos esse ano, não resta mesmo muita esperança.
Ano: 2004
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 98 min
Direção: Joe Roth
Roteiro: John Grisham, Chris Columbus
Elenco: Tim Allen, Jamie Lee Curtis, Dan Aykroyd, M. Emmet Walsh, Elizabeth Franz, Erik Per Sullivan, Cheech Marin, Jake Busey, Austin Pendleton, Tom Poston, Julie Gonzalo