|
||
Ninguém, em sã consciência, deve esperar muito de Sexo, amor & traição (2003). Afinal, trata-se de uma adaptação do já limitado Sexo, pudor e lágrimas (Sexo, pudor y lágrimas, de Antonio Serrano, 1999), campeão de bilheterias em sua pátria, o México. Para uma apreciação razoavelmente agradável, é preciso entrar no clima desencanado de Jorge Fernando - diretor debutante no cinema, depois de anos no comando de algumas das telenovelas mais descompromissadas da Globo. Diversão descartável é a palavra-de-ordem.
Na trama, dois casais atravessam crises conjugais: a fogosa Ana (Malu Mader) não recebe a atenção devida do nerd Carlos (Murilo Benício), enquanto o workaholic Miguel (Caco Ciocler) sufoca os anseios da ex-modelo Andréa (Alessandra Negrini). A chegada de dois viajantes, o conquistador Tomás (Fábio Assunção) e a compreensiva Cláudia (Heloisa Périssé), respectivamente ex-namorado de Ana e primeiro amor de Miguel, tumultuará ainda mais as relações.
Trata-se de um produto do padrão Globo de qualidade. Claro, com todas as coisas boas e más que o termo pressupõe. Assim, prejudica o filme a linguagem televisiva, óbvia, previsível, que exige apenas um espectador passivo e minimamente atento. Pesa a favor o elenco do plin-plin, visivelmente bem à vontade com papéis pouco exigentes. Malu Mader sabe ostentar a própria exuberância e Heloísa Périssé - felizmente - não exercita o irritante hábito de falar como uma adolescente retardada. Tudo muito bem adequado à proposta, com exceção da falada nudez de Fábio Assunção, pretexto para o acréscimo nas bilheterias, mas que pode muito bem decepcionar as multidões.
Em resumo, filme indicado para aqueles que sofrem com os Polishops e as Vigílias Pastorais da TV aberta, que fraquejam um pouco antes de conferir mais um Zorra Total no sabadão, que pensam 150 vezes antes de ir ao cinema e que agradecem aos céus pela Globo tê-los invadido.