Por Dentro da Garganta Profunda | Crítica
<i>Por dentro da garganta profunda</i> - Mostra de SP
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Os anos 70 continuam servindo como inspiração para os cineastas. Principalmente o nascimento da indústria pornô. O sensacional Boogie Nights (1997), do diretor Paul Thomas Anderson, foi um dos primeiros projetos que juntou ficção com realidade para desvendar o que se passava naquela época. Os cineastas Fenton Bailey e Randy Barbato resolveram ir mais longe. Seu documentário Por dentro da garganta profunda (Inside Deep Throat, 2005) é um retrato fiel de tudo que aconteceu na política e na sociedade norte-americana depois que o ousado filme Garganta Profunda (1972) foi lançado.
A fita foi o primeiro filme pornô a conseguir distribuição comercial nos Estados Unidos. Seu custo foi de 25 mil dólares e a direção ficou a cargo do cabeleireiro Gerard Damiano. A Máfia, que controlava a produção pornô na época, ajudou a conseguir o dinheiro para ele. Durante as filmagens ele percebeu que sua protagonista, Linda Lovelace dominava uma técnica impressionante durante a felação: ela conseguia engolir por completo o membro masculino. Impressionado com Lovelace, Damiano resolveu escrever um outro roteiro e mudou o nome do filme para Deep Throat. Seria uma comédia sobre uma mulher que nunca tinha tido um orgasmo na vida até descobrir que seu clitóris tinha nascido na garganta.
Continuando o festival de improbabilidades, o diretor resolveu despedir Harry Reems, seu assistente de produção, para recontratá-lo para ser o protagonista ao lado de Lovelace. Ele precisava de alguém que pudesse levar esse trama insana com um tom humorístico e Reems parece ter nascido para o papel. O filme estourou nas bilheterias e rendeu 600 milhões de dólares. Tudo isso acabou atraindo a atenção do governo Nixon, que queria censurar o filme. Seus assessores encomendaram uma pesquisa científica para poder provar o tamanho do mal que esses filmes faziam aos seus espectadores. A análise não produziu os resultados que o governo queria. Nixon resolveu, então, jogar a pesquisa fora e processar todos os envolvidos no filme. Harry Reems foi o único que não conseguiu se safar e acabou condenado a cinco anos de prisão.
Foi a primeira vez que um ator foi preso só por ter participado de um filme. Isso mobilizou Hollywood, e Reems recebeu apoio publicamente dos atores Jack Nicholson e Warren Beatty. Isso é mostrado no documentário, que conta ainda com os depoimentos de todos envolvidos na produção do filme, celebridades, promotores e representantes do governo na época. Descobrimos também todos os efeitos negativos que a repercussão acabou causando aos envolvidos. Os sonhos de cada um dos participantes foram sendo destruídos lentamente.
Além de informar, o documentário apresenta uma batalha hipócrita que acontece até hoje nos Estados Unidos entre o sexo e a moralidade. O filme defende que no momento do lançamento de Garganta Profunda, os Estados Unidos estavam no meio de uma revolução sexual e como ele foi um prato cheio para as feministas, que o utilizaram para atacar a sociedade.
Durante esse embate constatamos a ingenuidade de Damiano, que acreditava que poderia produzir filmes pornôs e associá-los aos mesmos distribuidores que as produções de Hollywood. A chegada do videocassete acabou selando de vez os seus objetivos.
Tudo isso é feito com muito humor e alinhavado com a ótima narração do ator Dennis Hopper. E o mais irônico é refletir que Garganta Profunda foi o apelido dado pelos jornalistas Bob Woodard e Carl Bernstein a Mark Felt, agente do FBI que revelou todas as irregularidades cometidas pelo ex-presidente Nixon e acabaram resultando em sua queda. O castigo tarda, mas não falha.



