Pato | Crítica
<i>Pato</i> - Mostra de SP
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Arthur Pratt (Philip Baker Hall) é um professor de História aposentado e decidido a se suicidar. Depois de esgotar todas suas economias cuidando da esposa enferma, acredita que a morte é a única saída para escapar da dor e da desilusão que o consome aos poucos. Certo dia, enquanto visita o cemitério onde a mulher e o filho estão enterrados, depara-se com um patinho órfão que o adota como mãe. Cuidar do filhote, Joe, transforma-se numa motivação de vida para o solitário protagonista.
É um filme simples, de baixo orçamento, que se torna interessante pelas suas estranhezas. A cena inicial, que mostra uma série de fotos em ordem cronológica, inclusive a data de morte de seu filho (contrariando as leis naturais) já relata um certo tom condolente sem ser piegas. Um futuro relativamente próximo de 2009 definido por uma cidade suja e desabitada, onde os carros velozes tomam conta da lentidão urbana e vazia, também tem seu peso dramático. O tom cor de terra da película contribui para a reconstituição de um ambiente nos cafundós do mapa. Entretanto, o interesse do filme fecha-se nessas reconstituições. À medida que procura vida nessa natureza morta, cai um pouco de ritmo e qualidade. A convivência insólita e esquizofrênica entre o ancião e a ave dos lagos resume a força do filme. A cena do pato pulando em seu cobertor é impagável. As outras inserções, como a presença do dono do imóvel, de alguns habitantes da cidade e o diálogo com um suicida, soam como meros adereços, desnecessários para uma proposta mais rígida. Dizem que o pato é multitarefa: anda, nada e ainda por cima voa. Entretanto, anda mal, nada mal e voa pior ainda. O filme também tem lá suas funções: anda muito bem, nada mais ou menos, mas voa baixo.
Érico Fuks é editor do site cinequanon.art.br

