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Nos últimos 100 anos a produção cinematográfica no Afeganistão resumiu-se a apenas 40 filmes entre longas e curtas-metragens. A ínfima produção é retrato da situação sócio-econômica do país, eternamente envolvido em conflitos territoriais, étnicos e religiosos. A situação piorou ainda mais quando o regime Talibã assumiu o poder, em 1996, impondo suas regras fanáticas e aplicando punições desumanas aos que ousassem desobedecê-los.
Com os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e a subseqüente guerra promovida pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, o regime Talibã caiu. Seis meses depois, o cineasta afegão Siddiq Barmak, que estava exilado no Paquistão, começou a desenvolver Osama. O filme ficou pronto em março de 2003 e, com o apoio do Ministério da Cultura do Irã, marcou o início da produção de longas-metragens no Afeganistão pós-Talibã.
Rodado totalmente na capital Cabul, Osama tem em seu elenco somente atores amadores, recrutados em escolas, orfanatos, centros de crianças de rua e campos de refugiados. A única exceção foi a protagonista, a menina Marina Golbahari, que foi encontrada pelo cineasta enquanto ele andava na rua.
No triste drama, uma viúva, sua filha e sua mãe vivem presas dentro de casa. Os mulás (chefes talibãs) não permitem que mulheres trabalhem ou saiam de casa sem estarem devidamente cobertas pela infame burka e na companhia de um homem. Assim, sem ter como ganhar dinheiro, as três começam a passar fome, o que força a mãe a tomar uma decisão dramática: disfarçar sua filha como um menino para que ela possa andar pela cidade e arrumar algo para fazer.
No entanto, os mulás pretendem garantir a perpetuação de sua cultura e realizam freqüentemente verdadeiros arrastões de garotos para aulas de religião, costumes, higiene e, claro, combate. Numa dessas seleções, a menina - agora batizada de "Osama" por um jovem pedinte - é levada para um centro de treinamento, no qual vai submeter seu disfarce a terríveis provações.
Apesar do louvável esforço do diretor, o filme não tem grandes inovações. Se, por um lado, nos mostra um pouco de como era o cotidiano durante o regime, por outro, não imprime na tela imagens que já não tenham sido vistas em filmes como A Caminho de Kandahar (as burkas coloridas contrastando com o bege do deserto, por exemplo). Nem mesmo o dilema da emancipação das mulheres é inédito, já tendo sido explorado em produções como Baran ou mesmo Dez, do iraniano Abbas Kiarostami, uma das muitas influências citadas por Barmak.
Outro problema do filme é no desenvolvimento de um dos mulás principais, que terá importância crucial no fim do filme. Ele é apresentado na metade da película como o professor de higiene, numa cena particularmente engraçada. "Lave suas partes três vezes na esquerda, três vezes na direita e três vezes no meio", ensina o mestre, um simpático velhinho gorducho de fala molenga que anda de burrico e gosta de cantarolar. Mais tarde, o filme pede que detestemos tal figura, mas o estrago já foi feito. Ele é simpático demais para ser odiado. Talibã ou não. O que deveria ser o ápice do drama fica engraçado e acabei saindo do cinema com a impressão (totalmente equivocada, eu sei) de que o destino da menina até que não foi assim tão ruim... Enfim, não faria mal ao filme se esse mulá fosse um vilão mais caricato, violento até, já que a história descaradamente assume essa dramaticidade desde o começo.
Osama
Osama
Ano: 2003
Lançamento: 27.06.2003
Gênero: Drama
País: Afeganistão
Classificação: 12 anos
Duração: 83 min
Direção: Siddiq Barmak
Roteiro: Siddiq Barmak
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