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O Vestido | Crítica

<i>O vestido</i>

13.05.2004, às 00H00.
Atualizada em 20.11.2016, ÀS 10H05

O Vestido
Brasil, 2004
Drama - 121 min.

Direção: Paulo Thiago
Roteiro:
Poema de Carlos Drummond de Andrade, Romance de Carlos Herculano Lopes e roteiro de Haroldo Marinho Barbosa e Paulo Thiago

Elenco: Gabriela Duarte, Ana Beatriz Nogueira, Leonardo Vieira, Daniel Dantas, Paulo José, Renato Borghi, Anna Luíza Gonçalves, Lívia Dabarian, Othon Bastos.

Primeiro, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) escreveu o poema Caso do vestido, publicado originalmente no livro A rosa do povo, de 1945. Baseado nele, o cineasta Paulo Thiago pediu ao escritor Carlos Herculano Lopes que o transformasse em um romance. Este, por sua vez, serviu de base para o roteiro escrito por Haroldo Marinho Barbosa e o próprio Paulo Thiago, que por fim se tornou O vestido.

Dá bem para dividir o longa em dois. Um, fiel ao poema, acontece numa cidadezinha típica do interior de Minas Gerais. O outro, criado para dar textura ao projeto, em um garimpo escondido no Mato Grosso. As centenas de quilômetros que separam os dois locais são menores do que a distância de qualidade das histórias.

Cronologicamente, tudo começa quando Bárbara (Gabriela Duarte) chega à cidade onde moram seu namorado Fausto (Daniel Dantas) e o primo dele, Ulisses (Leonardo Vieira), com sua esposa Ângela (Ana Beatriz Nogueira) e as duas filhas do casal. Bela e exótica, a forasteira chama atenção pelo seu jeito da cidade grande e suas roupas ousadas. Ulisses, marido perfeito, está passando por um momento complicado nos seus negócios. Mas, para provar que seus problemas profissionais não atrapalham os pessoais, ele encomenda um vestido para sua mulher, que o considera moderno demais e acaba dando de presente para Bárbara.

Na festa da passagem de ano, a estrangeira chega ao baile trajando o tal vestido e o que era boato vira fato. Ulisses cai de quatro, seduzido, apaixonado. Mas Bárbara não se entrega ao bonitão da cidade e o manda voltar para casa com um recado mais ou menos assim fale para a esnobe da sua mulher que ela deve vir pedir pessoalmente para que eu te aceite como amante. E eis que Ângela engole seco e faz isso, sob o olhar de todos seus vizinhos e o choro infantil de seu marido.

Apesar de estar intrinsecamente ligada ao denso poema de Drummond, esta é a parte fraca da história. E as atuações acompanham o nível da trama, com diálogos que fazem sentido no papel, mas que nada lembram a realidade em que vivemos. Na telona, tudo fica muito artificial. Como, por exemplo, a conversa das irmãs que acham (num futuro não muito distante) o vestido que a mãe guarda escondido, ou então o assassinato do político da oposição, em que amigos chegam meio segundo após o vilão sais de cena, mas não correm atrás dele para detê-lo. Se precisar de mais casos, basta pegar o jogo de futebol, em que é marcado um gol mais falso que nota de três reais, ou então o simples fato do mesmo vestido, justo, caber em duas mulheres de corpos tão diferentes e distintos em seus tamanhos.

Ato 2

Após ser deixado por sua esposa aos pés de sua amante, Ulisses se prepara para sua segunda chance, longe dali. Vai virar garimpeiro no Mato Grosso e, com o ouro que conseguir, quer quitar suas dívidas e viver feliz para sempre. O desprendimento do texto original e a mudança de ares parecem ter feito bem a todos. Até Gabriela Duarte, que não convence nem interpretando filha de Regina Duarte em propagandas do Dia das Mães, surpreende. Esta nova Bárbara, agora apaixonada e alcóolatra, é também cheia de problemas e neuras. A atriz, que geralmente tem ar de certinha, chega inclusive a se mostrar seminua em diversas cenas.

Se antes tínhamos caricaturas, agora vemos personagens tridimensionais, como o Dr. Espanhol (Paulo José). Talvez este tenha sido o bem mais precioso encontrado no garimpo. Mas que depois se mostrará ouro de tolo, pois o filme termina na mesma cidade de papel onde tudo começou.

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