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Desde que ganhou o Oscar, por Erin Brockovich, Julia Roberts não foi a estrela principal de nenhum outro filme. E isso foi em 2000. De lá para cá, ela dividiu os créditos com Brad Pitt em A Mexicana, ou fez pontas e papéis secundários em filmes como Os queridinhos da América e Full Frontal. Sem se preocupar com o cachê, ela pôde participar de projetos experimentais e ajudar amigos como George Clooney, que estreava em Confissões de uma mente perigosa.
Curiosamente, sua volta como protagonista vem em um papel cheio de paralelos com sua personagem. Se na vida real ela se casou e tenta aparecer o menos possível, em O Sorriso de Monalisa (Mona Lisa Smile), Katherine Watson é uma solteirona convicta, mulher moderna, que sai da ensolarada e liberal Califórnia com destino à pacata Nova Inglaterra. Katherine será professora de História da Arte em uma das mais conceituadas universidades americanas, a Wellesley. Esta instituição realmente existe. Saíram de lá, por exemplo, a ex-primeira dama americana Hillary Clinton. Foi um texto da Sra. Bill Clinton que levou os roteiristas Lawrence Konner e Mark Rosenthal a pesquisar mais sobre esta escola freqüentada apenas por mulheres, mas ao mesmo tempo tão machista - reflexos da sociedade pré-revolução feminista.
E é justamente isso que se vê na fita. Ao chegar no seu novo trabalho, Katherine logo entende que todas suas alunas são mais do que apenas inteligentes e esforçadas. Mas isso não faz delas perfeitas. Entra, então, a função primordial de um bom educador, ensinar a pensar. E este passa a ser o principal intuito de Katherine, depois de perceber que a maioria das meninas ali tinha enorme potencial, mas o jogariam fora se casando e vivendo uma vida de servidão domiciliar.
Mais do que qualquer professora novata, ela vai ser questionada não apenas pelo seu jeito de lecionar, mas também pela sua vida pessoal. Afinal, na década de 50, não era comum ver mulheres que abriam mão da estabilidade de um casamento em favor do sucesso profissional. Assim como também não eram vistos como arte, obras modernistas, como Picassos, Soutines e Pollocks.
Já vi esta história antes
Há, sem dúvida, um espelho do excelente Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poetry Society), com direito até mesmo a uma seita secreta, mas isso não deixa o filme menos interessante. Toda a previsibilidade escancarada desde o momento que Roberts é alvo de olhares do professor de italiano metido a galã pode dar lugar a algumas pequenas reviravoltas. Nada que torne a história inovadora, mas o suficiente para não torná-la comum.
Porém, diferentemente do famoso sorriso da Mona Lisa, pintado por Leonardo da Vinci, o filme tem poucos enigmas. As motivações dos personagens são desde cedo muito claros, deixando pouco para a nossa imaginação. O diretor Mike Newell (Quatro casamentos e um funeral, Donnie Brasco) podia ter tirado algo mais do excelente elenco que reuniu. Julia Roberts mostra seu talento, mas está burocrática e longe de sua melhor forma. Julia Stiles (A identidade Bourne) e, principalmente, Maggie Gyllenhaal (A secretária) foram subaproveitadas, sobrando espaço apenas para Marcia Gay Harden (Pollock) e Kirsten Dunst (Homem-Aranha) mostrarem um pouco do que são capazes.
Esperamos que em seu próximo trabalho Newell consiga extrair mais dos atores e mostrar um pouco de magia. Não sabe qual é? Harry Potter e o cálice de fogo.
Ano: 2003
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 0 min
Direção: Mike Newell
Elenco: Julia Roberts, Kirsten Dunst, Julia Stiles, Maggie Gyllenhaal, Ginnifer Goodwin, Topher Grace, Dominic West, Taylor Roberts, Juliet Stevenson, Marcia Gay Harden, Tori Amos