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O Grito | Crítica

<i>O Grito</i>

06.01.2005, às 00H00.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 19H01

O Grito
The Grudge
EUA, 2004
Terror - 96 min.

Direção: Takashi Shimizu
Roteiro: Takashi Shimizu, Stephen Susco

Elenco: Sarah Michelle Gellar, Jason Behr, William Mapother, Clea DuVall, KaDee Strickland, Grace Zabriskie, Bill Pullman, Rosa Blasi, Ted Raimi, Ryo Ishibashi

O romance que nos interessa não é o que vai
colocando os personagens na situação, mas o que
instala a situação nos personagens. Com o que estes
deixam de ser personagens para se tornarem pessoas.

Pensamento morelliano em O Jogo da Amarelinha

O citado clássico de Julio Cortázar (1914-1984) discorre sobre a literatura, mas é possível estender a idéia acima a vários tipos de narrativa. No gênero cinematográfico do terror, por exemplo, cabe perfeitamente. Nada melhor para impor medo no espectador do que construir bem a psicologia dos personagens: quanto mais denso este for, mais próximos nos sentimos da tragédia que ele vivencia.

O filme japonês Ju-on: The Grudge (2003) - sucesso que já teve uma continuação no mesmo ano e, a exemplo de Ringu (1998), também ganha a sua refilmagem hollywoodiana - trabalha com um tipo diferente de terror. Divide-se em capítulos, cada qual com o nome de um personagem. O filme vai e volta no tempo num período de pelo menos dez anos. E há um único protagonista, o espírito vingativo de uma mulher, morta violentamente numa casa que amaldiçoa desde então. Todos os desafortunados que cruzam o seu caminho e experimentam o "rancor" do título original são coadjuvantes. O diretor Takashi Shimizu opta por não aprofundar esses personagens com morte marcada. Todos ali são "colocados na situação".

Com isso Shimizu nos nega a identificação com o perigo vivido por eles, mas dá à maldição um perverso sentido de perpetuação: durante anos, gerações inteiras serão atingidas, novos personagens sumirão com a mesma velocidade com que apareceram, e não há fim aparente para esse ciclo.

Na hora de dirigir o remake ocidental, O Grito (The Grudge, 2004), Shimizu tem à mão uma série de vantagens técnicas. Efeitos visuais aperfeiçoados tornam sustos mais eficientes, como aconteceu com O Chamado (The Ring, de Gore Verbinski, 2002). Permanecem iguais a narrativa não-linear, o largo alcance do espírito rancoroso. Muitos planos são inclusive idênticos aos originais. Mas o diretor se depara com um paradoxo: precisa dar espaço e valorizar a estrela Sarah Michelle Gellar numa história que, como vimos, tem força por não consagrar personagem algum.

A eterna Buffy vive Karen, assistente social escalada para cuidar de uma senhora idosa na tal casa misteriosa, onde barulhos e cantos escuros escondem um passado escabroso. Sabemos pouco de Karen. Ela gosta muito do seu namorado e ruma ao serviço com a disposição de quem acabou de chegar ao Japão e torce para que tudo dê certo. O problema é que o desenho do seu perfil pára por aí, já que outros tantos personagens ocuparão a tela com papel semelhante. Até o fim do longa caberá a Sarah gritar, correr, tremer, e só.

Convocado a dar maior relevância a essa heróina de última hora, a essa vítima de luxo, Shimizu não consegue "instalar a situação dentro dela" - não consegue fugir da armadilha do filme-mosaico que ele mesmo criou. E assistir a uma Sarah desnorteada, mal aproveitada e mal dirigida, não compromete a experiência, mas deteriora boa parte do potencial de O Grito.

Nota do Crítico
Regular
O Grito
The Grudge
O Grito
The Grudge

Ano: 2004

País: EUA / Japão

Classificação: LIVRE

Duração: 92 min

Direção: Takashi Shimizu

Roteiro: Stephen Susco

Elenco: Sarah Michelle Gellar, Jason Behr, KaDee Strickland, Bill Pullman, Ted Raimi

Onde assistir:
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