Faz todo o sentido que Juliette Binoche tenha tido interesse em transformar os bastidores da criação do espetáculo In-I num filme. Em 2007, a lendária atriz francesa se afastou um pouco do cinema para montar um show de dança e atuação ao lado do dançarino Akram Khan com uma proposta especial acordada entre os dois: ela o ajudaria a melhorar como ator, e ele a ajudaria a melhorar como dançarina. Eis que surge In-I in Motion. O documentário primeiro captura o extenso período de ensaios antes de colocar em tela o resultado final daquele esforço.

Trata-se de uma premissa com potencial. Ver dois artistas de mundos diferentes colaborando, se desafiando e complementando a arte do outro pode, se apresentado de maneira honesta, ser um campo fértil para um documentário como este, e por boa parte do tempo, In-I in Motion aproveita bem as faíscas que surgem desse esquema de ferro afiando ferro. O problema, porém, é que “boa parte do tempo” não é bem o suficiente quando se trata de um filme com duas horas e quarenta de duração. Por si só, a longa metragem não significa o fim para o projeto, mas a forma como Binoche preenche o espaço é onde as coisas dão errado.

É um equívoco curioso, já que boa parte dos ensaios são centrados em com como Binoche e Khan precisam aproveitar melhor o espaço físico do palco, inclusive a grande parede que serve como pano de fundo para a narrativa protagonizada pelos dois – a trama segue um casal se apaixonando, se separando e forjando uma frágil reunião. Esse processo de treinamento e preparo é extensamente registrado, e aqui e ali, é possível ver momentos genuínos – seja de frustração, euforia ou parceria – entre Binoche e Khan, oferecendo um vislumbre fascinante da dinâmica entre duas pessoas interessadas em sair de sua zona de conforto.

Então vemos mais disso. E mais. E mais. Essencialmente no mesmo cenário, muitas vezes lidando com as mesmas cenas da dança e os mesmos passos. Binoche não oferece uma variedade visual interessante para contrastar com a repetitividade dos procedimentos que ocupam esses longos minutos. Seria a intenção de Binoche passar a sensação de desgaste que ela e Khan sentem repetindo os mesmos movimentos inúmeras vezes? Se sim, ela conseguiu. Mas ajudar o público a decorar a coreografia desse jeito não é exatamente bom cinema.

As coisas pioram, porém, quando depois de 1h40 de ensaios, assistimos a In-I na íntegra, revendo cada uma das sequências que já acompanhamos minuciosamente. Mas, se antes pelo menos havia o contexto do desenvolvimento artístico adicionando um contexto bem-vindo a tudo, simplesmente assistir ao show significa uma hora de dança ininterrupta, filmada não pensando numa linguagem cinematográfica, mas só como um registro do palco. Sim, há cortes e closes, mas estamos essencialmente assistindo a uma peça. Nada mais, nada menos.

Por mais interessante que seja olhar por trás da cortina para ver como dois tipos de artes podem se unir, e uma inegável força na fisicalidade dos protagonistas em ação, não há filme o suficiente em In-I in Motion para carregar a curiosidade inicial até a linha de chegada. no Festival do Rio, onde exibiu o filme, Binoche citou que não gostou do filme completo, e que colocar o espetáculo na íntegra no fim foi ideia da distribuídora. Ela já trabalha num novo corte com pelo menos 30 minutos a menos. Quem sabe, então, no próximo ensaio.

In-I in Motion

In-I in Motion

2025

156 min

País: França

Direção: Juliette Binoche

Elenco: Akram Khan, Juliette Binoche

Onde assistir:

Oferecido por