Jogo de Sedução | Crítica
<i>Jogo de sedução</i>
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A certa hora de Jogo de sedução, Carmen diz a Kit "beijar é colocar o pingo no i da palavra amor". A frase é dita em francês e ao traduzi-la para o inglês, os dois logo vêem que ela perde o sentido.
Tradução é um trabalho sempre delicado. Não é uma ciência exata e vai muito além de simplesmente mudar palavras de uma língua para outra. É necessário dar um sentido que torne cada frase familiar ao público leitor. Se você duvida disso, pegue qualquer site estrangeiro que você achar no Google e clique na opção "Translate this page" (traduza esta página). As coisas que vão sair dali serão absurdas e você pode até conseguir entender, mas vai dar trabalho e render boas gargalhadas. Por isso, traduzir nomes de filmes é algo tão complicado quanto em qualquer outra área. Mas mudar "Dot the i" (ao pé da letra "colocar pingo no i") para "Jogo de sedução" não é tradução, é abuso de poder. Se vale como consolo, na França o filme se chama Attraction Fatale (Atração fatal) e foi igualmente criticado.
Como dá para perceber, o título original do filme tem um contexto na história. Carmen (Natalia Verbeke) conhece Kit (Gael García Bernal) em um restaurante francês em Londres. É a despedida de solteira da moça e o garçom diz que, na sua terra, a tradição manda que a noiva escolha uma pessoa para um último beijo. O que deveria ser um símbolo de adeus à vida de celibatária acaba se tornando um grande problema, pois surgiu ali uma paixão que Carmen pensou que não sentiria por mais ninguém. Voltando para a casa de seu noivo, Barnaby (James DArcy), ela tem a impressão de que está sendo seguida e o principal suspeito é o ex-namorado que ela deixou para trás em Madri, sua terra natal.
Triângulo amoroso, vingança, personagem com problemas emocionais não resolvidos... Parece que o filme não tem nada de novo e só está sendo lançado agora para aproveitar a onda em cima do galã-latino-sensação Gael, que há pouco estava em cartaz por aqui com Diários de Motocicleta, de Walter Salles. Mas quem for curioso e resolver olhar além do fraco título brasileiro (Jogo de Sedução? Não tinha um nome mais óbvio e neutro?) vai assistir a um excelente filme tanto do ponto de vista técnico, quanto pela história.
Para realizar o projeto da forma como havia planejado, o diretor e roteirista estreante Matthew Parkhill chamou o diretor de fotografia Affonso Beato, brasileiro que, entre diversos filmes, trabalhou com Pedro Almodóvar em Carne Trêmula e Tudo sobre minha mãe. O resultado é diferenciado. O uso de câmeras digitais têm um efeito único e um propósito. E é melhor paramos por aqui, para não estragar nenhuma surpresa, pois no início você vai achar que a trama tem furos maiores do que a camada de ozônio, mas depois que alguns is são pingados, você verá que se trata de uma história muito bem amarrada.


