Irmãs Gêmeas | Crítica
<i>Irmãs Gêmeas</i>
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Olga (2004), de Jayme Monjardim, foi bombardeado com o consenso da crítica. Mas isso não impediu que o drama histórico, cuja linguagem novelesca fala direto ao coração das massas, fosse um sucesso de bilheterias. Olga ainda renderá muitos dividendos e muita discussão. Basta acompanhar o exemplo de Irmãs gêmeas (De Tweeling, de Bon Sombogaart, 2002), filme holandês indicado ao Oscar 2004 de melhor estrangeiro, para comprovar.
Ambos tratam o Holocausto da forma mais solene possível. Escoram-se no visual arrebatador. Abusam sem constrangimento da manipulação sentimental. Não fosse o fenômeno As Invasões Bárbaras (Les Invasions barbares, de Denys Arcand, 2003), Irmãs Gêmeas poderia muito bem ter conquistado os velhos judeus da Academia que decidem na categoria. Assim, não se assuste se Olga for escolhido como finalista em 2005 - e levar o páreo.
A grande questão é que o Oscar - especialmente o de melhor estrangeiro - nem sempre significa qualidade cinematográfica. Olga está longe de ser uma obra-prima, assim como o seu correlato holandês.
Folhetim
Bastam alguns minutos para entender o por quê. As alemãs Lotte e Anna são separadas aos sete anos de idade, quando os seus pais morrem. A primeira, doente, é dada a um rico casal holandês. A outra fica com os tios sem educação na zona rural da Alemanha. Lotte sobrevive, ganha tudo o que pede na sua nova vida aristocrata, mas não sabe que os pais adotivos escondem as cartas que envia constantemente a Anna. Já esta tem pouco tempo para pensar em Lotte. Obrigam-na a alimentar os porcos e ordenhar as vacas, proíbem-na de estudar, de ler. Quando pergunta da irmã, os tios mal lavados gritam que ela morreu.
Se até aqui tudo soa familiar, parecido com a trama de alguma novela das oito ou mesmo um folhetim mais barato, não é por acaso. Criar personagens baseados em estereótipos facilita a compreensão do público, isenta-o da responsabilidade de pensar por conta própria.
Ainda há por vir a parte mais aguda do drama. Crescidas, Lotte (Thekla Reuten) e Anna (Nadja Uhl) não se esqueceram do passado. Conseguem se reencontrar - mas justamente na época em que o Nazismo desponta como modelo de auto-afirmação para os desesperançados alemães. Lotte está prestes a se casar com um judeu holandês. Anna se apaixona por um oficial da SS. Aí reside a proposta principal do filme: mostrar como a guerra pode agir sobre pessoas do mesmo sangue, separá-las cruelmente em trincheiras opostas que não aceitam meio termo.
Seria uma premissa decente - e também uma boa metáfora para nações irmãs divididas no conflito - se o diretor Sombogaart topasse escancarar a complexidade da situação, ao invés de reduzir os personagens aos famosos "fantoches do Senhor da Guerra". À medida em que santifica as gêmeas para induzir, do princípio ao fim, a piedade do espectador, o filme se afasta cada vez mais da idéia inicial de "botar o dedo na ferida".
Os bons permanecem bons, os maus são sempre maus. Condessas e padrastos, inclusive, se portam como num melodrama mexicano. Para não deixar dúvidas quanto à emoção que o espectador deve sentir, o filme faz até do nazi que se casa com Anna um tipo do bem, que não acredita na guerra e luta por obrigação. Para um filme que pretende abranger várias tonalidade de conduta moral, nada mais nocivo do que praticar esse preto-e-branco de mocinhos e bandidos.
Tudo termina, para coroar a mediocridade, dando um fim covarde a Anna, para o caso de alguém, a essa altura, ainda não concordar com a inocência da moça. Definitivamente, não é com essa assepsia tipo "não-me-toques" que se faz uma boa lavagem histórica de roupa suja. Mas para ganhar prêmios está na medida.



