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Garotas do ABC (Aurélia Schwarzenega)
Brasil, 2004
Drama - 125 min

Direção: Carlos Reichenbach
Roteiro:
Carlos Reichenbach

Elenco: Michelle Valle, Fernando Pavão, Vanessa Alves, Ênio Gonçalves, Natália Lorda, Luciele Di Camargo, Rocco Pitanga, Dionísio Neto, Vanessa Goulart, Fernanda Carvalho Leite, Selton Mello, Vera Macini, Fafá de Belém

Carlos Reichenbach é único. Sua trajetória é repleta de filmes contestadores, não no sentido político da coisa, mas sim na intenção sutil de colocar questões chaves dentro de um ponto de vista semi-anárquico. Foi assim que se tornou um expoente do cinema da Boca do Lixo, fitas realizadas na década de 1970 e início dos 1980, que exploravam o sexo e a decadência humana nas grandes cidades como matrizes da construção de suas narrativas.

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Se a crítica especializada aponta o Cinema Novo como a maior vertente da sétima arte no Brasil, o cinema da Boca do Lixo de Carlão é a acidez e cretinice das grandes metrópoles sendo dissecadas nas telonas. A Ilha dos Prazeres Proibidos, de 1978, ou O Império do Desejo, de 1980, são basilares. Com este retrospecto, nada mais natural do que esperar que sua nova produção, Garotas do ABC, flertasse com o antigo estilo. Mas não é bem assim...

Reichenbach ficou mais suave. Os tempos mudaram, a ironia e o humor também tiveram de mudar. Hoje, ninguém mais se surpreende com nudez, putarias ou outras coisas do gênero. A televisão brasileira já tomou o posto da Boca do Lixo. Então, Carlão resolveu partir para uma outra produção, um meio termo entre a cretinice antiga e um cinema mais sério. O resultado é bem interessante.

Em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, operárias participam do dia-a-dia mais normal que se pode exigir. Aurélia (a bela Michelle Valle), carioca e fanática por Arnold Schwarzenneger, está apaixonada por Fábio Tavares (Fernando Pavão). Porém, o rapaz é um daqueles patéticos neonazistas. União pouco usual: uma negra e um preconceituoso. Em cima desta amarra, o diretor constrói seu universo endoidecido.

Em várias frentes, Carlão narra a vida das operárias da fábrica têxtil, em especial de Paula Nélson, assediada pelo um líder sindical ao mesmo tempo em que tenta manter a harmonia entre as meninas da fábrica; Antuérpia, que aos 38 anos tenta iniciar-se na profissão de tecelã; e a masoquista-casta Suzana, apaixonada pelo patrão. E também dá vazão aos delírios de Salesiano de Carvalho (Selton Mello, impagável), um integralista que comanda e controla um pequeno grupo de neonazistas, especializado em atentados contra nordestinos. Amarrando a história, as duas frentes irão se encontrar num bailão de sexta-feira, no clube cuja a dona é ninguém mais, ninguém menos do que a bizarra Fafá de Belém.

Desde do início, Reichenbach mostra o que pretende. Começa com um anti-strip. Aurélia, inicialmente nua, vai se vestindo. Historicamente, ele sempre fez o contrário. Mas se deixou o enfoque do sexo como segundo plano no enredo, transformou o filme inteiro numa piada, não no sentido negativo, mas sim de mostrar o quanto é patético existir qualquer traço de racismo num país como o Brasil. E quando se trata de esculacho, Carlão é o cara.

Mas nem tudo são flores no trabalho de Garotas do ABC. O filme original tinha mais de três horas de duração, mas para a versão comercial, a história foi comprimida em 130 minutos, o que gera, em vários momentos, a sensação de desapego e falta de amarras. Situações surgem e se esvaem sem qualquer relação com o que vinha sendo apresentado, o que pode enfastiar um pouco o espectador. Um erro que acaba sendo compensado pela boa fotografia e pela verve de Reichenbach.

Na onda da campanha à la Galvão Bueno de "o bom do Brasil é o brasileiro", Garotas do ABC é um primor do retrato irônico do país, com os estereótipos perfeitos da burguesia preconceituosa, burra e entediada de São Paulo, com o zé povinho alienado e rudimentar apenas se preocupando com sexo e diversão. Agora, decida-se qual deles é você.

Nota do Crítico

Ótimo
Danilo "Dieguito" Corci

Garotas do ABC

Garotas do ABC

2003
130 min
Comédia Dramática
País: Brasil
Classificação: LIVRE
Direção: Carlos Reichenbach
Roteiro: Carlos Reichenbach, Fernando Bonassi
Onde assistir:
Oferecido por

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