Diabo a Quatro | Crítica
<i>Diabo a quatro</i>
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Por anos, ouvi falar dos irmãos Marx, alicerces da comédia Hollywoodiana, juntamente com O Gordo e o Magro, Buster Keaton (1895-1966), W.C. Fields (1880-1946) e outros imortais. Já conhecia o mais famoso dos irmãos, Groucho (1890-1977), por sua figura caricatural, o charuto sempre à mão e as frases afiadas, presentes em vários livros e coletâneas de humor. Apenas quando a sessão de Diabo a Quatro (Duck Soup, 1933, de Leo McCarey 1898-1969) começa, percebo estupefato que o famoso bigode de Groucho Marx é pintado.
Essa surpresa deve ser uma sensação comum à geração oitentista, aos filhos da MTV. Sempre incensados, os irmãos não tinham os seus filmes exibidos a novas audiências. Não tinham. Entra em cartaz Diabo a Quatro, considerado o melhor longa do quarteto Groucho, completado por Harpo (1888-1964), Chico (1887-1961) e Zeppo (1901-1979). Exemplar em preto-e-branco de humor clássico, ora físico, ora cerebral, pode até cair com estranheza nos gostos atuais. Mas não há como negar o valor histórico e a qualidade da película.
Para se ter uma idéia da gozação, os créditos iniciais transcorrem enquanto, ao fundo, alguns patos nadam numa panela. Essa é a "sopa" do título original. Durante todo o resto do filme, os patos não aparecem mais. Nem sopa alguma.
A trama transcorre num país fictício, Freedonia, que atravessa grave crise econômica. Os governantes pedem, então, o auxílio financeiro de uma ricaça local, Gloria Teasdale (Margaret Dumont, presente em sete filmes dos irmãos, talvez escalada por não entender, dentro e fora da tela, nenhuma das piadas dos Marx). A mulher coloca uma condição para emprestar o dinheiro: o incompetente presidente deve se afastar, dar lugar para um certo Rufus T. Firefly. Acontece que o tal Firefly, personagem de Groucho, é um picareta folgado e falastrão. Não demora para a situação piorar, a ponto de Freedonia entrar numa hilária guerra com uma nação vizinha, Sylvania.
Cada um dos irmãos possui uma persona. Groucho cospe piadas por segundo num ritmo quase inacompanhável, como se o roteiro servisse exclusivamente como veículo para as suas tiradas. Zeppo, em sua última colaboração com o trio, pouco aparece. Chico e Harpo interpretam os trapalhões enviados de Sylvania para espionar Firefly. Se Chico serve perfeitamente de escada, com o seu sotaque italiano, Harpo rouba a cena como o palhaço inofensivo. Seus tapas, tombos e caretas têm um timing perfeito. A inocência contagiante de Harpo equilibra bem a receita, não deixa o ego de Groucho dominá-la.
Claro, não se trata apenas de um exercício circense. Vale atentar para as cutucadas na política internacional. Da Depressão à memória da I Guerra, inúmeros fatos verídicos reverberam na ficção, ridicularizados em excelentes números musicais e no retrato da burocracia do poder. Entender que as semelhanças não são mera coincidência ajuda na compreensão da importância do filme. Mas para se divertir, basta apenas deixar-se levar pelos Marx.
Muitíssimo prazer em conhecê-los.


