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De Tanto Bater, Meu Coração Parou | Crítica

<i>De tanto bater, meu coração parou</i>

08.09.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H18

De tanto bater, meu coração parou
De battre mon coeur sest arrêté
França, 2005
Drama , 108 min

Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Jacques Audiard e Tonino Belacquista

Elenco: Romain Duris, Neils Arestrup, Jonathan Zaccai, Gilles Cohen, Linh Dan Pham, Aure Atika, Emmanuelle Devos, Anton Yakovlev, Mélanie Laurent, Agnès Aubé

De fato, trata-se de um filme taquicárdico. As primeiras cenas do De Tanto Bater, Meu Coração Parou (França, 2005), do co-roteirista e diretor Jacques Audiard (Read my Lips, A Self Made Hero), baseado no filme Fingers, escrito e dirigido por James Toback, já começam em 220V. Planos fechados, cortes rápidos, diálogos ensandecidos e verborrágicos.

Tom (Romain Duris, de Exílios, Albergue Espanhol), 28 anos, faz pequenos negócios no ramo de corretagem imobiliária ao seu estilo mafioso e violento: coloca ratos no imóvel pra desvalorizar o negócio, expulsa os sem-teto que invadem o local, trata pessoalmente de dívidas com os devedores de modo nada amigável. Muitas vezes, se vê obrigado a proteger seu pai acertando contas com trambiqueiros dessa maneira truculenta e pouco ortodoxa. Assim o filme constrói seu universo niilista, preenchido por pobres e aproveitadores, fracassados, estrangeiros, desiludidos sem perspectiva em seus vazios existenciais.

Mas uma oportunidade inesperada leva Tom a acreditar que pode se tornar, como sua mãe, um grande pianista. Aí o filme muda de ritmo, dá uma acalmada, concentra-se em planos mais abertos e mais demorados. Com muita dedicação, ele começa a se preparar para uma audição com uma virtuose chinesa, que não fala nada de francês. (Repare como há diferentes maneiras de abordar o estrangeirismo na França: em Lila Diz, a personagem chinesa é uma prostituta; aqui, é uma graduada em música erudita). Ambos estabelecem como único elo de relacionamento a música. Cada nota representa uma palavra, cada timbre significa um estado emocional.

Se não fosse a competência do diretor, esse dilema ficaria meio esquemático. A opção do protagonista entre ingressar no mundo belo, sério e artístico, ou se perpetuar nos feios e sujos bas fonds dos negócios lucrativos porém escusos. Aqui, há um dinamismo cênico de deixar qualquer marcapasso em parafuso. Sim, o filme funciona à base de calmantes e estimulantes o tempo todo. Mas essa alternância de estados reativos bipolares não indica qualquer tipo de obviedade. Pelo contrário, são maneiras experimentais de se tatear um caminho para o encontro de algo que não sabemos exatamente o que é.

Talvez esse seja o grande mérito do filme. Não na mudança rítmica, estética e cromática, pois seria simplista demais. Mas em manter as ambigüidades acima das aparências, sem cair em psicologismos fáceis. De Tanto Bater... não chega exatamente a condenar suas crias com formulações estereotípicas. Tampouco é um filme que prega a redenção salvacionista. O pai de Tom, da maneira fora de forma como está caracterizado, é sim um loser. Mas guarda dentro de si uma vontade rancorosa de mudar o estado das coisas e melhorar de vida, assim como o filho, mesmo que tem a plena consciência de que não irá conseguir. Através dessas caracterizações, o filme não fica sendo nem determinista nem transformista de sua realidade nua, crua e podre. Consegue ser muito mais dialético do que bipartidário e mecanicista, explorando com cuidado as incertezas humanas e extraindo um belo conteúdo de seus impasses. De Tanto Bater... é um raro exemplo de que o por-cima-do-murismo não indica apatia nem falta de opinião própria. Haja pulso firme.

Érico Fuks é editor do site cinequanon.art.br

Nota do Crítico
Bom
De Tanto Bater, Meu Coração Parou
De Battre Mon Coeur S'est Arrêté
De Tanto Bater, Meu Coração Parou
De Battre Mon Coeur S'est Arrêté

Ano: 2005

País: França

Classificação: 14 anos

Duração: 108 min

Direção: Jacques Audiard

Roteiro: Jacques Audiard

Elenco: Romain Duris, Niels Arestrup, Jonathan Zaccaï, Gilles Cohen, Aure Atika, Emmanuelle Devos, Anton Yakovlev

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