Celeste & Estrela | Crítica
<i>Celeste & Estrela</i>
![]() |
||
|
||
![]() |
||
![]() |
||
|
|
Sim, você já ouviu esta história. Talvez até conheça pessoas que a vivenciaram: um jovem talento goza dias de glória com a sua primeira obra e, inebriado pelo sucesso relâmpago, conhece o inferno ao tentar emplacar os seus próximos trabalhos. É a síndrome da banda de uma música só que, depois de dominar a programação das rádios e vender milhares de discos, desaparece.
O cenário, porém, não é musical. Celeste Espírito Santo (Dira Paes), de vinte e poucos anos, conquista os principais prêmios de uma edição do Festival de Brasília. É o seu primeiro curta-metragem, que se vale da anatomia humana como metáfora para explicar a dinâmica do Distrito Federal, onde vive. Não se cansa de ressaltar, com o ar de desprezo característico das moças de classe média que estudam Ciências Sociais, que os pobres equivalem aos intestinos da cidade.
Recebe os prêmios trajando um vestido que estampa o pôster de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964, de Glauber Rocha) e, troféus debaixo do braço, parte para a realização de sua obra definitiva: um longa-metragem que irá radiografar o Brasil a partir de 15 histórias de amor situadas no passado, no presente e no futuro.
Entre as muitas recusas que o roteiro recebe, Celeste conhece Paulo Estrela (Fábio Nassar) - funcionário do Ministério da Cultura que, caído de amores pela moça, empenha todas as suas economias e contatos para fazer o filme acontecer.
Baseado em fatos reais
Betse de Paula, diretora e roteirista de Celeste e Estrela (2005), se vale do humor rasgado e de situações clichê próprios das telesséries brasileiras para contar esta que foi e continua sendo a sua saga. Os momentos autobiográficos estão em toda parte: o marido produtor, os prêmios conquistados no Festival de Brasília, as agruras da captação de recursos, o vai-e-vem entre uma cidade e outra...
Essas dificuldades, enfrentadas por quem anseia fazer cinema num país com recursos mais do que limitados, estão de tal maneira entranhadas em Betse que resultam, inevitavelmente, no uso da metalinguagem. O seu filme dentro do filme chega às salas de exibição quatro anos depois das primeiras filmagens. Obtidos num concurso do Ministério da Cultura, os recursos iniciais não foram suficientes para realizar a montagem e viabilizar o lançamento comercial.
As marcas do longo tempo de espera não passam despercebidas: é recorrente a sensação de que já vimos essa e aquela cena antes. O clima de dèja-vu é reforçado pelos diálogos assinados por José Roberto Torero (Como fazer um filme de amor). O jornalista que é também roteirista de quadros humorísticos para a televisão carrega no aspecto literário, roubando parte da espontaneidade dos personagens e do brilho de atores comprovadamente talentosos, como a protagonista Dira Paes.
Todos estes fatores, somados à pouco convincente atuação do estreante Fábio Nassar, são coroados pelo estrabismo nada engraçado da convidada especial, Ana Paula Arósio, que vive uma atendente de aeroporto. Tendo em conta todos os sonhos e esperanças que os realizadores empenharam na fita, é triste admitir que a bilheteria de Celeste e Estrela possa ter desempenho semelhante ao da ficção: pouco mais de 250 espectadores...



