Viva a música sem limites com Deezer!

Icone Conheça Chippu
Icone Fechar
Filmes
Crítica

Camelos Também Choram | Crítica

<i>Camelos Também Choram</i>

MH
14.07.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H18

Camelos Também Choram
Ingen Numsil

Alemanha, Mongólia
2003 - 87 min.
Documentário

Direção e roteiro: Byambasuren Davaa, Luigi Falorni

Participações: Janchiv Ayurzana, Chimed Ohin, Angaabazar Gonson e, Zeveljamz Nyam

Indicado ao Oscar 2005 de melhor documentário, Camelos também choram (2003) tem cara de produto Discovery Channel. Pelo menos no comecinho.

Omelete Recomenda

A imensidão de deserto de Gobi, no Sul da Mongólia, próximo à China, parece bem maior na perspectiva de uma família de pastores nômades. Eles vivem em um par de tendas, subsistem com a criação de cabras e camelos. A câmera registra hábitos de rotina: o artesanato das mulheres, a ajuda das crianças no trato com os bichos, a labuta rudimentar, o jantar. Chega a época da procriação dos camelos. A idéia dos mongóis é não interferir no processo natural. Mas uma fêmea tem dificuldade em parir. Atravessa a madrugada, leva metade de um dia - e com a ajuda das pessoas dá à luz um filhote albino, que ela renega.

Dirigido pelo mongol Byambasuren Davaa e pelo florentino Luigi Falorni, com co-produção alemã e mongol, o filme começa então a ganhar características distintas do gênero documentário. Na verdade, configura-se cada vez mais como um docudrama - o registro de uma realidade com estrutura narrativa dramática. Estrutura essa, a saber: apresentação do conflito, desenvolvimento do embate e conclusão.

E o conflito aqui é justamente a recusa da mãe em aceitar a cria, branquinha, frágil, diferente de qualquer outro camelo em todo o Gobi. Quando o filhote se aproxima, ela foge ou o coiceia. E sem mamar, mesmo tendo o leite ordenhado disponível, ele morrerá. O desenvolvimento desse embate trata justamente dos esforços da família em fazer com que a mãe se renda: amarrar as pernas, forçar a aproximação... Uma hora só resta como último recurso o ritualismo. Cantar, dançar, tocar instrumentos e crer que a sabedoria ancestral será capaz de superar a ciência. Não convém falar da conclusão, mas vale dizer que dela sairão as tais lágrimas do título.

O choque da mudança

Portanto, o que antes se restringia ao limite observacional se transforma em uma fábula folclórica, com começo-meio-fim. Existem outras peculiaridades do filme que, aos poucos, o tornam um conto quase ficcional. Antes os habitantes do deserto eram objetos de estudo, mas aos poucos se transformam, como os camelos, em personagens - no sentido mais puro do termo, o de assumir uma persona, uma personalidade em função da narrativa. Não é por acaso que nos letreiros finais os nomes sejam citados como um elenco.

A peça principal dessa trama é o garoto mais jovem da família. O gorro Adidas que não sai da sua cabeça é o único símbolo globalizado em um mundo estritamente tribal. Junto com o irmãos mais velho, ele é encarregado de rumar à cidade mais próxima para trazer o músico capaz de encantar o camelo. Lá vão os dois, apertados entre corcovas. E quando chegam no vilarejo o deslumbre do pequeno é total. Todos andam de bicicleta. Vestem roupas diferentes. Um desenho animado na televisão é especialmente magnético. Quando retornam à família, ao deserto, ao nada em lugar nenhum, o menino pede que os pais comprem uma televisão. O avô rejeita o que ele chama de "imagens de vidro".

No fundo, é disto que trata Camelos também choram: o choque do diferente, da mudança. De certo modo, o filhote renegado pela mãe é como uma modernidade na qual os nômades criadores de animais se recusam a ingressar - por medo, principalmente, de perder sua própria identidade.

Acontece - e esta é a mensagem fundamental desde pequeno grande filme - que o novo não necessariamente substitui o velho, que o diferente não anula os iguais. Há lugar aqui para mágicas e lágrimas e também tem muito espaço para pilhas e parabólicas. Vale muito conferir.

Nota do Crítico

Bom
Marcelo Hessel

Camelos Também Choram

Die Geschichte vom Weinenden Kamel

2004
87 min
Documentário
País: Alemanha/Mongólia
Classificação: LIVRE
Direção: Byambasuren Davaa, Luigi Falorni, Jiska Rickels
Elenco: Janchiv Ayurzana, Chimed Ohin, Amgaabazar Gonson, Zeveljamz Nyam, Ikhbayar Amgaabazar, Odgerel Ayusch, Enkhbulgan Ikhbayar, Uuganbaatar Ikhbayar, Guntbaatar Ikhbayar, Munkhbayar Lhagvaa, Ariunjargal Adiya
Onde assistir:
Oferecido por

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.