Bicicletas de Pequim | Crítica
<i>Bicicletas de Pequim</i>
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Imagine a combinação do clássico Ladrões de bicicletas (Ladri di biciclette, 1948), de Vittorio de Sica (1902-1974), filme pioneiro do neo-realismo italiano, com a inspiração trágica e epopéica do cinema chinês moderno. O resultado é Bicicletas de Pequim (Shi qi Sui de Dan Che, 2000), de Wang Xiaoshuai.
Porém, mesmo com as lições de vida nos dois filmes sendo aprendidas depois de muito sofrimento e provação, existe uma diferença a ressaltar entre de Sica e Xiaoshuai. O italiano formulou uma tendência e fez escola, com o intuito de promover a revolução em seu país através do cinema. O chinês conserva esse apelo social, mas usa como instrumento muito mais o impacto do que exatamente a reflexão.
Em Bicicletas de Pequim, Guei (Cui Lin) é um jovem recém-chegado à capital chinesa, onde ostentar duas rodas significa ter identidade e status social, muito mais que simplesmente economizar tempo num trânsito caótico. Guei realiza seu sonho ao começar a trabalhar como entregador e ganhar uma mountain bike prateada. Mas quando a bicicleta é roubada e o jovem perde seu emprego, começa a sua penúria. E acredite, essa é ainda a menor das desgraças.
Literalmente, Guei apanha de dez em dez minutos e só esboça alguma reação quando agridem também o seu objeto de desejo. Mas não há nesse percurso qualquer tipo de avanço. A bicicleta troca de mãos um punhado de vezes, mas isso não adiciona muita coisa, em meio a uma narrativa redundante, de poucos momentos realmente iluminados. Protagonista apático, do ponto-de-vista psicológico, Guei termina o filme como começou.
Além disso, deve haver uma certa rivalidade entre os cineastas da China. Essa é a sensação que fica em certos momentos de Bicicletas de Pequim. É citado o nome de Zhang Yimou e de um de seus filmes, A História de Qiu Ju (Qiu Ju da guan si, 1992), de forma jocosa. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, Qiu Ju é o relato de uma mulher em busca de justiça contra o agressor de seu marido e é lembrado aqui como um "modelo" de vida amaldiçoada... Algo do tipo "já viu alguma desgraça maior do que a história de Qiu Ju?"
Detalhe: se a obra de Wang Xiaoshuai fosse tão boa quando a de Yimou (de Lanternas Vermelhas, Nenhum a Menos), ele teria total liberdade para fazer tal comentário. Porém, ele ainda vai ter de pedalar muito para chegar perto tanto de Yimou quanto de Vittorio de Sica.

