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Crítica

Baran | Crítica

<i>Baran</i>

MH
29.05.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H14

Baran
Irã, 2001

Drama - 94min.

Direção: Majid Majidi
Roteiro: Majid Majidi

Elenco:
Hossein Abedini, Zahra Bahrami, Mohammad Amir Naji, Hossein Mahjoub, Abbas Rahimi, Gholam Ali Bakhshi, Jafar Tawakoli

Engajado e afinado com as preocupações de seu povo, o cinema iraniano flerta com o Realismo, de grande força poética mas sem muitos floreios visuais. Afinal, como num documentário, o impacto da realidade substitui a necessidade de artifícios estéticos.

Mas logo de cara, Baran (2001), de Majid Majidi, surpreende por conter algo além da denúncia social. Está ali a composição de cena cheia de significados, mas essa intensidade vem acompanhada de uma narrativa solta, fluente e cativante. Surgem também os personagens épicos, heróicos e sofredores, mas as suas personalidades possuem algo de burlesco, propositadamente caricatural, como no ótimo O Voto é secreto (Raye Makhfi, de Babak Payami, 2001). E, enfim, se encontram ali as dificuldades do cotidiano real, mas as cores utilizadas por Majidi sugerem um technicolor de tonalidades saturadas, bem mais lírico e belo do que seria aceitável na paisagem arenosa do Irã.

A própria trama, passada na Teerã dos dias atuais, já demonstra essa vocação de tragédia "colorida". Num prédio em construção, o jovem Lateef (Hossein Abedini) ganha a vida servindo chá aos obreiros, enquanto o capataz Memar (Mohammad Amir Naji) emprega refugiados afegãos - ato condenado pela justiça do Irã. O policiamento é tal que Lateef precisa mostrar a sua identidade toda vez que vai ao mercado. A sua vida começa a mudar quando Rahmat (Zahra Bahrami), o filho acanhado de um velho afegão, precisa substituir o pai machucado na construção.

Acontece que o pequeno Rahmat não tem forças para o trabalho pesado. Assim, Memar opera uma mudança. Coloca Rahmat na cozinha (coisa que os obreiros comemoram prontamente) e passa Lateef para o sobe-e-desce de tijolos e cimento. Puto da vida, o iraniano decide infernizar o tímido afegão que roubou o seu lugar. Lateef só não esperava desvendar um segredo: na verdade, Rahmat é uma menina escondida atrás de panos grossos, de nome Baran. A partir daí, começa o filme de fato. Solidariedade, compaixão, devoção e loucura, exatamente nessa ordem, são as palavras-chave.

Premiado internacionalmente por Filhos do Paraíso (Bacheha-Ye aseman, 1997) e A Cor do Paraíso (Rang-e khoda, 1999), Majidi prova que sabe comunicar com as imagens, como todo grande mestre, sem o auxílio ostensivo das palavras. O fogo e a fumaça constantemente presentes na construção servem de metáfora para a neblina de preconceitos que separa os dois jovens, os dois povos. Na cena em que Lateef observa de longe Baran recolhendo pedras na enxurrada, aquela torrente violenta também simboliza um obstáculo para a conciliação. Como se as diferenças entre iranianos e afegãos não fossem só de ordem étnica, social, mas também física, natural.

À medida que o fim se aproxima, ao lado da angústia do espectador surge um sentimento inesperado: o contentamento. Majidi potencializa de tal modo o seu lirismo (através de uma edição de som exagerada e da já citada saturação de cores) que a cena derradeira, não exatamente um final feliz, faz da sublimação dos personagens um desfecho satisfatório. Traduzindo, a grosso modo, Baran seria um Amélie Poulain triste, melancólico, mas igualmente encantador.

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