Anjo de Vidro | Crítica
<i>Anjo de vidro</i>
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Então, é Natal. Em pleno novembro o comércio se adianta e o cinema não fica atrás. Para lançar seu primeiro filme como diretor, o ator Chazz Palminteri inventou um esquema diferente: uma semana após estrear nos cinemas em cinco cidades norte-americanas, o filme sai em DVD flexplay (tecnologia mais barata, mas também descartável, pois o disco se inutiliza em 48 horas). Quatro dias depois ganha exibição na televisão dos Estados Unidos.
Por aqui, em lançamento simultâneo, a distribuidora Imagem cerca Anjo de vidro (Noel, 2004) - tradução bem acima do trivial título original - de perfumaria. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, jovens vestirão asas e auréolas enquanto estiverem executando performances. E durante a primeira semana em cartaz, a compra de dois ingressos dará direito a um anjinho de resina de brinde.
Mas... e o filme?
O espírito natalino reina - não daria para ser diferente. Mas o começo da noite promete tristeza para Rose (Susan Sarandon), mulher de meia idade que cuida da mãe doente há dez anos, da mesma forma que cuidou de seu pai. Rose tem pouca paixão na vida, ao contrário do casal Nina (Penélope Cruz) e Mike (Paul Walker). O problema é que o ciúme doentio dele põe em risco as festividades. No caso de Jules (Marcus Thomas), a situação é ainda mais trágica: o único Natal decente que teve foi aos quatorze anos, quando, depois de apanhar do pai desequilibrado, dividiu uma alegre ceia com outros pacientes no hospital.
Todos, com exceção destes protagonistas, estão felizes. A atmosfera de Nova York que os sufoca é, sim, irritantemente cheia de neve e cantoria. Mas não confunda o humor negro de Palminteri com melodrama - pelo menos não neste início de filme. Ítalo-americano do Bronx nova-iorquino, o ator parece inseguro na gerência, nos closes picotados, mas tem aquela verve singular de um ator típico de filmes de mafiosos. Não poupa ninguém, arranca boas piadas do bolso, investe no absurdo com desenvoltura.
Evidentemente, a redenção chegará para pôr fim à penúria geral. Cabe na fórmula do final feliz, inclusive, a intervenção divina de última hora. Mas vale salientar que a travessia até esse desfecho edificante não é tão dolorosa quanto parece. Por investir no estilo de roteiro-mosaico, que reúne tramas paralelas e eventualmente as entrelaça, Anjo de vidro resulta leve. Como em Simplesmente amor (Love Actually, de Richard Kurtis, 2003), filme natalino da temporada passada, conta várias histórias para não precisar se aprofundar em nenhuma. Isso é cômodo para quem faz e acaba poupando quem assiste. Aqui, somos poupados de ver Paul Walker o tempo todo, por exemplo.
De resto, os nova-iorquinos andam precisando mesmo de um bom milagre.


