A Profecía dos Sapos | Crítica
<i>A profecía dos sapos</i>
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Os desenhos animados passaram por uma fase complicada. Como sinônimos de coisa de criança, eles foram renegados a ser mais consumidos no quase finado VHS do que nos cinemas. A boa notícia é que o gênero conseguiu não apenas voltar com grande força às salas escuras, como ainda reconquistar o público adulto, que deixa a tal criança que existe dentro de si livre para se divertir ao lado dos pequenos. Quando entrei no cinema para ver A profecia dos sapos (La prophétie des grenouilles, 2003), era esta diversão e qualidade que eu esperava. Mas não foi o que tive.
Inspirada na lenda da Arca de Noé, a tal profecia do título dá conta que teremos 40 dias e 40 noites de chuvas ininterruptas. Quem prevê o dilúvio são os sapos, que na verdade nem precisariam se preocupar com isso, afinal - como anfíbios - vivem muito bem dentro da água. Mas, como bons cidadãos do mundo que são, eles resolvem alertar os humanos. Cabe a dois pré-adolescentes e os pais adotivos de um deles reunir os animais e assim tentar salvá-los para repovoar a Terra quando a água baixar. E começam aí as discrepâncias do roteiro. Os animais e os humanos não têm tempo de preparar uma arca e são salvos por uma câmara de pneu, que faz um celeiro flutuar. Ah tá!
Tudo bem fantasiar um pouco, fazer os animais andarem sobre duas patas e falarem a língua dos humanos, mas calma lá, né? E isso ainda é só o começo. Para sobreviver, eles vão se alimentar estritamente à base de quilos e mais quilos de batata que estavam (estrategicamente?) estocadas. Para os herbívoros, ok, mas e os carnívoros, como o leão, o tigre e a raposa, como vão sobreviver?
A única boa reviravolta do filme é justamente quando um dos personagens inesperadamente lidera um motim que visa tirar o líder do comando. Mas isso não vem sem um certo exagero e em poucos minutos vemos o tal novo líder rebelde soltando gargalhadas dignas dos mais cartunescos vilões de filmes B. Exagero é o que não falta ao longa. Todos os atos se perdem na escala, talvez para tentar deixar mais claro na cabeça das crianças o que está acontecendo. Mas há de se lembrar que os meninos e meninas de hoje já nascem com acesso à internet, e-mail e perfil no orkut!
Que a idéia era boa, não há dúvida. Colocar em um espaço pequeno seres tão diferentes entre si gera uma série de possibilidades de estudos sociológicos, como acontece por exemplo na série hit do momento Lost. Se não quisesse ir tão fundo em um tema sério, o diretor Jacques-Rémy Girerd podia simplesmente mostrar às crianças que existem diferenças entre as pessoas e que há diversos modos de resolvê-los. Porém, confuso em meio a estas e inúmeras outras possibilidades, ele acaba perdendo o foco.
Acostumado a filmes e principalmente desenhos melhor amarrados, fiquei imaginando se as crianças de hoje vão se envolver com a história. A que existe dentro de mim saiu da sala bem decepcionada.



