A Mulher Coreana | Crítica
<i>A mulher coreana</i> - Festival do Rio
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Durante muito tempo a Coréia do Sul foi governada por uma ditadura repressiva. Depois da sua separação do Norte, o país tornou-se uma das nações mais influentes da Ásia. Como conseqüência, sua indústria cinematográfica desenvolveu-se, atraindo distribuidores ocidentais. Assim tivemos a oportunidade de conhecer o trabalho de cineastas locais. O diretor e roteirista Im Sang-soo é um dos nomes que já chama atenção nos Festivais e Mostras espalhadas no mundo. Em seu cinema sentimos uma predileção por temas não conformistas em que o sexo serve de ponte de ligação para temas muito mais profundos.
Uma Mulher Coreana (Baramnan gajok, 2003) é o produto melhor acabado de Sang-soo em relação à sua proposta de discutir a relação homem/mulher numa sociedade que ainda carrega valores tradicionalistas. Youngjak é um advogado extremamente competente. Ninguém imagina que por trás desse homem bem sucedido existem segredos obscuros que poucos sabem. Seus colegas de profissão não gostam dele. Sua relação com os pais também não é boa. Para completar, ele não é um bom pai nem um exemplo marido. Hojung, sua esposa, é uma ex-dançarina que abandonou a profissão para cuidar dos sogros e de Sooin, seu filho de 7 anos.
Youngjak não consegue dar prazer sexual à sua esposa. Toda vez que eles transam, Hojung é obrigada a se masturbar para sentir algum prazer. Isso enfurece Youngjak, mas parece não incomodá-lo quando a sua amante também faz uso da mesma prática. A esposa sabe das traições e aceita essa situação. Porém, quando sua frustração sexual chega ao limite, ela se envolve com um vizinho adolescente. Esta crise familiar aumenta quando o precoce filho do casal descobre um segredo que envolve ele e seus pais.
Todas essas relações têm o sexo como premissa. Mas acreditar que o sexo é o que mais importa é um equívoco. Ao longo da projeção descobrimos uma relação falida que vem desde o pai de Youngjak. Quando o velho morre, vítima de alcoolismo, sua esposa revela alguns segredos que mostram incríveis semelhanças entre pai e filho, o que abala Youngjak.
Um acidente na estrada com um motoboy desequilibrado mentalmente será o início de uma série de eventos que resultarão em reviravoltas na trama. Morte, mágoa e sofrimento serão os elementos que libertarão Hojung de seu marasmo no relacionamento. Ao mesmo tempo acompanhamos uma descida de Youngjak ao inferno e contar mais seria estragar as surpresas e a mensagem do filme.
O diretor Im Sang-soo caminha para se tornar um dos grandes nomes do cinema asiático. Sua câmera é participativa e nervosa, parece mais um personagem na história. E ele tem uma extraordinária habilidade para registrar as mais diversas formas de emoção. Duas cenas exemplificam a sua competência nesse aspecto com representações de vida e morte.
Im Sang-soo também usa de metáforas para criar reflexão. No começo do filme acompanhamos uma escavação onde são encontradas várias ossadas de pessoas que foram mortas pelo antigo regime. Nesse momento ele propõe que a luz invada esse passado obscuro e trágico. Da mesma forma, o povo coreano precisa se libertar das amarras de uma sociedade machista que insiste em existir.



