A Jornada de James para Jerusalém | Crítica
<i>A jornada de James para Jerusalém</i>
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Com tantos filmes hollywoodianos que recebemos semanalmente em nossos cinemas, assistir a filmes de outros países é mais que uma obrigação. É um descanso e uma forma de entender diferentes culturas, mesmo que seja segundo a visão de uma única pessoa, no caso, o diretor. Melhor ainda quando estamos falando de uma ótima crítica social apresentada de forma tão simples e bem feita como A jornada de James para Jerusalém (Massaot James Beeretz Hakodesh - 2003).
Escrito e dirigido pelo israelense Raanan Alexandrowicz, o filme começa com um epílogo na forma de desenhos e um coral de africanos. Ali aprendemos que o religioso James (Siyabonga Melongisi Shibe) foi escolhido por seu povo para viajar até Jerusalém e conhecer a Terra Prometida. Porém, ao desembarcar em Israel, o protagonista aprenderá a duras penas que o cenário descrito na Bíblia não existe mais. Enquanto ele está honrado por conhecer uma legítima mulher hebraica, a oficial da imigração diz que não cai mais nesse papo de peregrinação e lhe nega o visto de entrada no país. Na prisão, enquanto espera o momento de ser deportado, chega Shimi Shabati (Salim Dau), um empregador que tira as pessoas da prisão e as coloca para trabalhar para ele, fazendo trabalhos pesados de limpeza e construção. Mesmo neste sistema de semi-escravidão, James continua firme com seu plano de ir à Jerusalém e cumprir sua missão.
Siyabonga empresta a James uma ingenuidade tão cândida que nem seu patrão consegue resistir e aos poucos vai dando chances ao nobre rapaz. Uma delas é ficar o dia todo com seu pai, Sallah Shabati (Arieh Elias), um velho ranzinza e solitário, que vê no menino uma companhia, mas faz questão de deixar claro ao rapaz que ele é um empregado e está ali apenas para fazer o que lhe for ordenado.
Sallah e Re´uma (Florence Bloch), amiga da esposa de Shimi, ensinarão a James como funciona a sociedade israelense, cheia de "kombina" e "frayer". A primeira palavra significa mutreta, esquema por fora. Já a segunda, a mais utilizada no filme, designa um panaca, uma pessoa que deixa os outros fazerem dele o que quiserem. "Não seja um frayer", repete o velho o tempo todo.
James aprende bem a lição e vai colocando em prática suas kombinas, sem ser frayer. Assim, com os diálogos falados em inglês, hebraico e um pouco de zulu, acompanhamos as transformações que o ambiente pode exercer em uma pessoa. Somos capazes de ver os males do capitalismo, o choque de culturas, a cegueira religiosa e o desprezo pelos velhos.
Alexandrowicz é capaz de mostrar tudo isso porque tem como "berço" os documentários. A jornada de James para Jerusalém é sua estréia em ficções. Um début que pode levá-lo à terra prometida do cinema, Hollywood. Esperamos que ele não ceda às tentações do capitalismo e fique onde está, ou então, que vá, conheça, mas volte à sua origem.



