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Refilmagens são bem-vindas não pela novidade, mas pelo eventual resgate dos obscuros filmes originais. Não fosse a Insônia (Insomnia, 2002) de Christopher Nolan, por exemplo, nunca saberíamos que a matriz norueguesa de 1997 é imensamente melhor. Certos casos, entretanto, são duvidosos. Existe algum interesse neste remake hollywoodiano de Nove Rainhas (Nueve Reinas, de Fabián Bielinsky, 2000) agora que já sabemos como o thriller argentino, cheio de estupendas reviravoltas, termina?
Inclusive nos Estados Unidos, onde o filme não fez tanto sucesso quanto no Brasil, esse gênero de grandes golpes e ladrões charmosos já sofre um considerável desgaste. Mas isso não impediu que George Clooney e Steven Soderbergh, parceiros na companhia Section Eight, produzissem 171 (Criminal, 2004), filme que marca a estréia como roteirista e diretor de um colaborador habitual da dupla, o assistente-de-direção Gregory Jacobs.
O jovem mexicano Diego Luna, em momento favorável na indústria americana, entra no lugar do bonaerense Gastón Pauls no papel do gatuno em início de carreira. John C. Reilly substitui Ricardo Darín como o impiedoso larápio veterano que precisa da ajuda do novato simpático - fator decisivo na hora de convencer as vítimas - para aplicar um manobra milionária. Antes, a jogada era vender os selos raros do título argentino, agora entram notas antigas do tesouro americano, falsificações igualmente valiosas. Todo o resto permanece parecidíssimo, até as pequenas artimanhas na fase de "treinamento" - coisa que facilita o trabalho de Jacobs.
Só quem assistiu ao original consegue perceber como a americanização, a plastificação, se impõe aqui. O filme simplesmente não tem o charme de Nove rainhas. Reilly, ótimo ator, está longe de ser um Darín. E se você espera novidades no desfecho, esqueça. 171 não promove mudanças, mastiga explicações que no original são apenas insinuadas e ao fim aplica o famoso "politicamente correto" norte-americano - purismo irritante que já tinha vitimado o citado Insônia - para não deixar dúvidas quanto à conduta moral do filme.
Mas há uma inovação nas entrelinhas. O fato de um ator latino ter sido escolhido como o novato não é um acaso. O personagem de Reilly, preconceituoso, xinga o "chicano", o ludibria, mas depende dele para servir de intérprete e salvador em diversos momentos. Clooney e Soderbergh sabem que, hoje, o cinema latino dá um show no hollywoodiano. Por isso, promovem essa eficiente metáfora que lava a alma do pessoal daqui de baixo. Quem conhece Nove Rainhas de trás pra frente pode se agarrar a essa peculiaridade de 171.
Autor: Fabián Bielinsky
Ano: 2004
País: EUA
Classificação: 14 anos
Duração: 87 min min
Direção: Gregory Jacobs
Roteiro: Fabián Bielinsky
Elenco: John C. Reilly, Diego Luna, Maggie Gyllenhaal, Peter Mullan, Zitto Kazann, Jonathan Tucker, Laura Cerón, Soledad St. Hilaire
